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segunda-feira, junho 05, 2006

Perdas e ganhos, Lya Luft, Record, 2003


Ainda não acabei o Livro, mas acho que posso ir falando as primeiras impressões...

Já ouvi sobre ele as mais diversas teorias: “é auto-ajuda com grife!”, Lya Luft é uma escritora burguesa”, “é um livro fascinante!”, “agora que ela começou a escrever mal...”

Bem, para começar, precisa-se de muita coragem para sair do confortável mundo da ficção para o mundo das idéias e opiniões, já que na ficção temos a proteção do simbólico e do obscuro, muitas vezes nem o próprio autor tem a dimensão do que está falando.

Representar através de metáforas a vida parece mais simples de algum modo: tendemos a aceitar mais prontamente uma sugestão, que nos dá espaço de reflexão, do que uma observação, que parece afirmativa.

Ao mesmo tempo, este mundo apresenta tantas teorias, tanta complexidade, que a velha função do filósofo, ensaiar discursos sobre a vida, dar linhas de percepção, parece fazer falta. Falta a figura do intelectual capaz de absorver e devolver com formas de julgamento e possibilidades; a auto-ajuda pareceu transformar tudo na livre vontade do sujeito liberal, a velha e boa consciência clara e distinta, ao poder do super-homem indivíduo. Sem voluntarismo barato e sem pessimismo intelectualista.

O que esse livro tem de bom é, de um lado, um otimismo generoso com a vida, sugerindo que podemos trazer alegria para ela, e por outro lado, a percepção de nossos jogos de auto-destruição, nossa conivência com o tempo da morte diário. Sua visão sobre a velhice criativa parece também deliciosa. (Acho que falta um pouso falar do grande silêncio de um mundo que está além da classe média, de fato, já que quase um terço dos brasileiros está em situação de miséria; mas não se possa resolver tudo agora).

E Lya Luft narra suas percepções com a autoridade de quem fez mudanças drásticas após os 40 anos. (O melhor que eu poso falar dela é que conheço seu filho, e é uma pessoa que trata a todos com respeito e delicadeza). Acima de tudo Lya é uma ótima observadora. Ela me ensinou que o autor não é alguém que vive nas nuvens, mas uma pessoa que vê o que muitos deixaram de ver. Um profeta do mínimo.

Afinal as coisas mais profundas são absolutamente simples, e dizê-las poda parecer muitas vezes ridículo: não se trata de “saber” que a rosa precisa de sol, mas de colocar a rosa no sol. O livro fala disso, tendemos a nos contentar com pouco: Lya abre uma janela para nosso coração, agora, saiamos para o sol.

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