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domingo, agosto 20, 2006

TELESPECTADOR ATUAL OU ESPECTADOR VIRTUAL?

Sobra a campanha publicitária do Pan-Americano
Raphael Mesquita


O sempre atento mercado publicitário já esta ágil na divulgação dos jogos Pan-Americanos, que acontecerão em 2007, na cidade do Rio de Janeiro. Já se investe pesadamente em campanhas publicitárias e sobretudo na aproximação com o possível participante do evento. Mas a novidade este ano é que o espectador virou, quase que exclusivamente, telespectador, mesmo quando os jogos serão realizados no próprio país.
(...)
Esse tipo de aproveitamento educativo através do esporte não é nada novo. Num país em que o esporte é referência na criação de ídolos, tal prática se faz bastante comum. Não raro vemos personalidades esportivas deslocadas de seu papel original e exercendo essa função pedagógica que nem sempre diz respeito a seu ofício. Papel não exclusivo dos esportistas, é bem verdade. Mas pensemos que em países com os EUA, por exemplo, o jovem é realmente incentivado a praticar esportes.

Mais do que a formação de um campeão, a política norte-americana visa a prática esportiva. O adolescente que se destaca no esporte é também aquele que poderá conseguir uma bolsa nas disputadas universidades americanas. Entretanto, sabemos que o campeão de futebol americano do colégio que ganha a desejada bolsa para estudar em Harvard devido a isso, certamente não sairá de lá como ícone do esporte, mas sim como médico, engenheiro, ou qualquer outra profissão que exija a formação universitária.

Políticas públicas à parte, voltemos ao que de fato nos interessa: a nova forma de participação do espectador brasileiro (e sobretudo carioca) nos Jogos Pan-Americanos. Se pensarmos nas duas citadas propagandas, em ambas o canal de transmissão utilizado é a televisão. Nós, telespectadores, vemos a divulgação dos Jogos pela televisão. E, dentro da televisão, novos telespectadores (personagens) vêem, de fato, os acontecimentos esportivos.

Ao contrário do que se espera normalmente, exceto pelo intermédio da televisão-personagem, não vemos belas imagens, grandes feitos esportivos, nem a divulgação do Rio de Janeiro, cidade maravilhosa. Chama atenção que as duas propagandas não se dirigem à promoção do evento esportivo, como a princípio se acredita. São na verdade apenas instrumentos de divulgação da própria televisão. Não nos reconhecemos como esportistas.

Nos reconhecemos no garoto matemático ou na garota Lego. E pra esses, a televisão parece suprir suas necessidades e anseios, trazendo mais do que diversão, também "conhecimento" e "responsabilidade".Acontece que a autopromoção da televisão na transmissão dos Jogos é feita de modo mascarado.

A impressão que se têm é do interesse nos jogos. Escolher o nome do mascote, ou estar próximo de campeões esportivos são estratégias de aproximação. A televisão acaba por eliminar, ou ao menos reduzir, a magia do contato direto com o esporte. Pode-se notar uma tentativa de substituição de sensações. Todos sabemos que o clima num campo de futebol, numa quadra de basquete ou de vôlei, ou mesmo nas arquibancadas de uma piscina, é bastante diferente do clima que se constrói pela televisão.

Não que não se tenha emoção diante da televisão, mas as sensações são distintas e sobretudo a experiência vivenciada é outra. E justamente neste ponto somos enganados, pois a imagem e o ambiente que se vende são unificados. Assim podemos voltar a questão da veiculação das propagandas começarem exatamente durante a Copa do Mundo.

Quando já se tem um bilhão de pessoas em frente à televisão e existe um clima de "parar a cidade" para assistir um jogo de futebol (pela televisão), fica fácil apropriar-se dessa ambientação e defender que a televisão é grande propiciadora de emoção. Ela consegue dar conta não só da informação sobre os Jogos, mas da transmissão da atmosfera do "ao vivo".

http://www.contracampo.com.br/81/tvpan.htm

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