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quarta-feira, setembro 20, 2006

POA EM CENA- Calamidade - direção Cláudia de Bem

Tenha fé. Você vai conseguir dizer o nome dela. Manoela WSXIKWJKSNKJYWLKNXWSY, abreviado como Sawitzki.
(Os poloneses, sempre conseguiram vencer os alemães nesse pormenor, nomes). As pessoas adoram dizer de quem não têm 40 primaveras que são “jovens”, e como se não bastasse, “promissores”. Manoela não é, nesse sentido complacente, “jovem”, nem “promissora”: é uma artista, pronta, excepcional. E vai melhorar, porque vai amadurecer, mas aí já é lucro.
É daqueles momentos em que o teatro gaúcho brilha.

Liane Venturela sempre sabe escolher bem seus textos. (Ela sabe, também ter uma linguagem contemporânea, aberta, radical, sem ser pura forma; mesmo que ela não seja a produtora, cenógrafa ou figurinista, todo trabalho que vejo dela é marcado por essa beleza inovadora).
Sandra Dani dispensa qualquer inútil tentativa de elogiá-la com palavras. Está no alto patamar de um Paulo Autran, de uma Norma Alejandro.

O cenário, do português José Manuel Castanheira, é feito de latas, e um telão, que realmente está integrado a tudo que acontece na peça, tecnologia a serviço da estória.
A luz, desenhada por Cláudia e executada por Taylor, muito muito diferentemente do que foi em Ricardo, o Terceiro, marca emoções, colabora, cria. Os contrastes de claro-escuro, vermelho, azul, são deliciosos. O figurino é bem acabado, um retrô a ver com o resto, maravbilhoso. Zoe Degani, sempre maravilhosa, também é assistente de cenografia.

E o texto, sim, é novo e fresco. É sobre rancor, perda, mais rancor.
O personagem da mãe “polonesa” é fantástico: só quem tem alguns genes poloneses (no meu caso, bem escondidos, é verdade, pelo indígena, negro, espanhol e português) pode saber o quanto tudo é real.

Sandra Dani, como sempre, brilha: é puro fogo, é tragédia pura, sem destino, deuses ou reis, contemporânea, mas sensata e honesta.
Já o personagem da filha, interpretado por Liane, não me pareceu tão claro. As filhas polonesas podem ter ódio, e ter também elas sua dose de veneno, misturado a cuidados, amor e delicadeza. Nada que comprometa a qualidade, a visceralidade, a força do texto, claro. Mas, quando ela diz, por exemplo,
“minha mãe é uma puta”, poderia continuar “eu, eu queria ser essa puta, eu queria muito”. O personagem não ganha vida própria, não porque seja pequeno, mas porque sua antagonista é realmente grande.

Seu passado com o namorado, seu amor-ódio pela mãe, a razão de sua confusão, não são tão definidos. Qual o conflito, afinal? Mesmo assim, a força cênica de Liane transforma tudo em um todo coerente e agradável.
Em um dos momentos de enfrentamento, quando a mãe ataca a filha, mesmo sendo mais frágil, vemos duas grandes atrizes em um duelo triunfal.
Enfim, uma das raras ocasiões em que você sai do teatro pensando: que turma inteligente!
ajr

PS: A dramaturga comenta que o texto teve uma adaptação para caber no tempo previsto para apresentação.

link:
calamidade-teatro.blogspot.com/

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