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segunda-feira, abril 23, 2007

Adeus ao Urso...

Em mais um furo de reportagem o Jornal da Globo acaba de mostrar o "mais divertido político do século XX", Boris Yeltsin...

Entre uma explicação inacreditável de que ele estava fadado ao comando porque na URSS uma vez é dos cabeludos outra dos caecas (não é piada!) e toneladas de imagens sobre um presidentes "capaz de fazer os outros rirem", foi falado da "maior rapinagem com empesas públicas" que deu lugar a uma "oligarquia".

Ai, ai, assim como a Vejam Só, a euforia da "capitalização" impede que se fale sério... é a nova política: feita de informações banais...
ajr

2-
É uma atrás da outra, na linha duríssima do JG. Quando parecia impossível ser mais neoliberal, hoje se ouve:
"a GM foi vítima de um coquetel de exigências trabalhistas" e perdeu a liderança mundial para a Toyota mesmo tendo demitido "70.000" americanos em 2006. Rapidamente se comenta sobre o fato da empresa japonesa criar carros "menores e mais econômicos" além de um modelo híbrido (elétrico-à gasolina) que agradou a nova mentlidade dos consumidores...

A culpa? "Custos trabalhistas..."
Ou seja, a visão é tão dura que não muda um centímetro, mesmo quando a relidade parece contradizê-la... Qualquer busca na internet mostraria outra coisa. Por exemplo:

"As grandes firmas nipônicas vêem-se mais como comunidades do que como propriedade dos acionistas. Esta comunidade compreende os acionistas, é óbvio, mas também os empregados, os clientes, os fornecedores e os credores.

Antes de maximizar o valor “líquido” – credo americano – os proprietários pretendem equilibrar o interesse comum da comunidade, a fim de assegurar o sucesso da empresa no longo prazo."


Crescimento sem ortodoxia, Sanford M. Jacoby

http://diplo.uol.com.br/2006-05,a1303

Ou querem nos esconder coisas, ou não quer fazer buscas... jornalismo....

- Ah, teve ainda a "CPI" do "caos aéreo"... e
"a reforma da educação proposta pelo governo é um consenso nacional (um elogio?)
blábláblá o PAC - que ainda não saiu do papel (ah, não, era só introdução...)

ajr

quinta-feira, abril 19, 2007

A forma errada de resolver um problema


Entradas sejam reforçadas, com guardas de segurança e detectores de metais: impossível ou eficaz nos centros educacionais que tentaram a medida.
Longas filas de espera para assistir as aulas, guardas com pouca formação, que muitas vezes são agressivos, maior sentimento de hostilidade.
Presença de seguranças quase decorativa.

Será que o fim da proibição do porte de armas de fogo, como sugeriu a "Liga da Defesa dos Cidadãos da Virginia" seria mais eficaz? Duvido...
O fato é que nosso assasino tem um manifesto.

- "Tão logo ele começou a ler, toda a turma começou a rir, a apontar para ele e a dizer, 'volte para a China"

-"Só existiam alguns que realmente perseguiam ele, eram maus, derrubavam ele no chão e riam"

-"Ele realmente não falava bem o inglês e eles faziam piadas."

Não seria o caso de se perguntar por que motivo os estudantes são tão infelizes?
Não seria preciso tentar evitar a competição, incentivar um convívio igualitário, tentar aproximar os "diferentes" numa sociedade cada vez mais multicultural?
Seria preciso rever a ética individualista e/ou dos grupos por classe?
Não, melhor mais estereótipos...

Zbigniew Brzezinski, ex assessor de Carter para Assuntos de Sugurança Nacional, em 1997 já recomendava:

"uma ameaça exterior direta de proporções verdadeiramente maciças e escancaradas". (Gore Vidal, 2002)

Lembremo-nos do "manifesto" dos intelectuais europeus, entre eles Salman Rushdie, segundo o qual

"O islamismo é uma ideologia reacionária que mata a igualdade, a liberdade e o secularismo em qualquer lugar onde está presente"...

Há quem discorde:
"A lógica desses críticos é que os americanos primeiro incentivaram governos ditatoriais seculares, que por sua vez sufocaram a oposição. Agora que os americanos começam a forçar essas mesmas nações a promover uma abertura política, o único movimento que sobreviveu com força para reagir foi o religioso."

http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2006/02/060224_islamismoocidenters.shtml

terça-feira, abril 17, 2007

Tiros, de novo...

Uma coisa que sempre me assusta nesses "crimes na escola" é a surpresa dos envolvidos. Um entrevistado atrás do outro diz: "Não compreendo..."

"O senador Jim Webb, do Estado da Virginia, disse que o tiroteio foi um 'ato sem sentido".

Uma vida "suave e saudável" de subúrbio como diz Luiz Fernando Veríssimo no prefácio do livro de Gore Vidal (Sonhando a Guerra, 2002). "(A Associação Nacional dos Rifles -NRA) é responsável por mais mortes de americanos do que qualquer inimigo do país".

Outra coisa incrível é a confusão e despreparo dessa Universidade, dessa polícia. Será que no mundo perfeito nada vai acontecer?

"Alguns alunos reclamaram que não foram alertados pela universidade até receberem um e-mail mais de duas horas depois do primeiro incidente.

Não foram feitos anúncios no sistema de alto-falante, disseram. O estudante Billy Bason, de 18 anos, disse: 'Eu acho que a universidade tem sangue nas mãos por falta de ação depois do primeiro incidente."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/story/2007/04/070417_virginiashootingg.shtml


Tirando o Jabor, que conseguiu dizer que a "a razão é uma frescura francesa como escargot, se finit", e pregou que "loucura não se explica", esses horrores mostram as contradições que a sociedade não consegue esconder: Bush, financiado pela NRA diz que "Quando tais santuários são violados, o impacto é sentido em toda sala de aula americana e em toda comunidade americana".

Sempre me impressionou também a violência silenciosa de um mundo onde os "inteligentes" e os "ricos" são glorificados, a solidão dos estudantes, a competição, etc.

Segundo Ballone GJ - Depressão na Adolescência -

"Algumas pesquisas também mostram que cerca de 20% dos estudantes do 2º grau sentem-se profundamente infelizes ou têm algum tipo de problema emocional.

Talvez seja porque o mundo moderno esteja se tornando cada vez mais complexo, competitivo, exigente, e muitos adolescentes têm dificuldades para lidar com as necessidades de adaptação que se deparam diariamente. "

in. PsiqWeb, Internet, disponível em http://www.psiqweb.med.br/, revisto em 2004

Ainda:

“Os europeus se mostraram relativamente felizes e nenhum país ficou abaixo da nota cinco em termos de felicidade ou de satisfação com a vida. A pesquisa mostrou que a confiança na sociedade é muito importante”, afirmou Luísa Corrado, coordenadora da pesquisa na Universidade de Cambridge. (...)

“Os países com índices altos de felicidade também obtiveram os melhores níveis de confiança em seu governo, suas leis e sua sociedade”, disse ela."
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/04/070417_felicidade_am.shtml
Hedonismo pós-cristão de "Roma"

Diz Contardo Calligaris na Folha dessa quinta, comentando a série de TV "Roma": "somos demasiado preocupados com nossa sobrevivência para sermos hedonistas."É verdade: seríamos hedonistas se não estivéssemos pensando em ganhar pra viver, em pagar educação, saúde e cultura, privadas, agora.

Nascí quando Madonna era a Nova Nossa Senhora.

Saturado, portanto. Prazer para minha geração é também servidão a produtos"mentais" de uma empresa...

O problema não é o prazer, claro (de que serviria a vida sem ele?) mas esquecer que participe você ou não existe uma estrutura no mundo, e alguém está decidindo algo sobre seu futuro. Sobrevivência significa: alguém não está cumprindo o que devia cumprir-seja o governo, dominado por grupos minoritários, seja empresários, com isenções de 900 milhões como a Gerdau, seja a ONU, no Iraque, etc.

"Somos higienistas, isso, sim. Mas não hedonistas." As nossas empresas querem de nós uma moral bem rígida, controle e produtividade. Roupas adequadas, aparência, para entrar no "mercado". Não se trata de um marxismo chato, onde primeiro vem a revolução, depois a vida, nem de catolicismo medieval, onde o sexo destrói o mundo, mas de lutar pela capacidade de entender a raíz do hedonismo sem paz.

O bom hedonismo, para mim, surge do prazer do convívio- com outros, com paz, com sexo.

O mau hedonismo é uma repetição compulsiva que esconde um medo e uma paralização de compreensão, ação, criação. "No logo", urgente!

Não se trata de uma moral cristã asfixiando a vida, mas de uma ética prática e diária de preservação e cuidado, quando nosso poder se tornou grande demais e nosso anonimato mútuo permite atropelar sem ver (quase me pegam esses dias!), queimar índio e atirar em 33.
(Um desses atiradores de 15 anos passou a vida toda ouvindo de seu pai "você é um perdedor, porque tira notas baixas- era depressivo- e quando matou sua mãe disse- "para você não ter vergonha de mim").

Podemos criticar a religião pela castração, mas uma educação para a sociabilidade fez e faz falta. Se não somos nada para ninguém- no ninguém da massa metropolitana- queremos nos sobressair pela competição, pelo exibicionismo, quremos roubar a atenção pela excelência compulsiva. Se ninguém me pára, eu posso tudo. Viva o hedonismo comunitário!

segunda-feira, abril 16, 2007

E-mail para uma artista...

"... Um artista nunca pode perder o centro, ou seja, a percepção do que realmente importa na vida, a delicadeza, o contato com as pessoas, a simplicidade, a ternura. Você sempre foi uma menina sincera, estudiosa e sensível.

Todos nós, artistas temos o desafio constante de desenvolver nossa sensibilidade e criar uma linguagem própria nossa, única, um canto autoral. Quando uma individualidade se forma, um universo se abre, todos percebem que podem mais.

Para isso, você sabe, temos de alimentar o espírito sempre, limparmo-nos da repetição e da distração ativa, tornarmo-nos maiságeis e mais sensíveis, com outros artistas, filmes, estranhos, poemas, gente nova, principalmente gente fora do nosso contexto. O que sente uma menina da Cidade de Deus?

Recomendo ardentemente Cartas a Um Jovem poeta do Rilke, pela questão da sensibilidade; qualquer coisa da gravadora Fayga Ostrower, que nos fala da arte como retomada do humano; Memórias, sonhos e reflexões de Gustav Jung, um relato da luta de "um homem consigo mesmo", e também Clarice Lispector, qualquer coisa... Um intelecto que é molhado e quente. Pensar ventre.

A arte, exige recolhimento, reflexão, pois tem de entrar para sair. Temos de vencer a barreira da máscara social, do querer agradar, para mostrar nossa fraqueza, nossa verdade, é só aí que pegamos o outro. A arte é, antes de tudo, uma postura ética perante a vida, um criticar, um propor. Precisamos ser ousados, pois o mundo nos exige, mas precisamos ter uma voz única, isso leva tempo mas é o único caminho- para dentro.

Semessa construção não formamos um eu, e tudo vai com a onda. Um artista só permanece se ele falar com um gesto inédito: isso significa, dobrar-se sobre si mesmo e o mundo.

Como as pedras ou as amplas paisagens, isso leva tempo, silêncio, espera. Um mestre da dança Butoh japonesa, Kazuo Ohno, veio a Porto Alegre: olhava no olho de todas as pessoas.

Eu vejo que você está lidando muito bem com todo esse barulho da necessidade de colocar-se, e sei que compreende o que eu digo. Dentro de você existe uma coisa verdadeira, e não deixe que o turbilhão faça lhe evitar o ato verdadeiro.

Eu não falaria isso se você não fosse uma artista. Uma grande artista, porque tem olhar.

Espero que perdoe esse meu lado conselheiro, mas me senti à vontade por compartilhar desse difícil caminho que é enfrentar nossos medos e por isso poder ter uma alegria verdadeira, que contagia o público.

À luta, companheira :)
! beijão enorme.
ajr

"Eu penso que há algo em comum entre a energia de nascimento de uma vida e a do nascimento do Universo. Existe uma força centrípeta entre mãe e filho , como entre o Sol e os planetas do sistema Solar. Tudo oque existe nesse mundo é ligado profundamente com o Universo. "

Kazuo Ohno
Kill Bill

Bem, começo minha saga pelo KB - que a Globo fez o favor de me entregar em casa- vendo uma moça usar uma caixa de cereais para lançar uma faca e ser morta por outra. Eu acho que a grande sacada para se assistir a esses filmes é estar preparado para uma "piada" ensanguentada atrás da outra, uma espécie de fecho pelo sangue de toda cena. Personagem é ação. Gente é figurante. Diálogo, ação, morte. Eu não estava preparado.

Se fosse apenas lixo, como Power Rangers ou filme de kung-fu, ninguém ficaria tímido para dizer que achou pretensioso e banal.

Mas vejam bem, não é siplesmente trash! É um diretor "brilhante" trabalhando com elementos da cultura de massa, que ele bebeu na mamadeira, é um símbolo cult da minoria chamada nerds-todo-mundo que sabe de cor os episódios da Jornada nas Estrelas. Claro, todos nós vivemos de seriados e novelas, isso que nos permeia de todos os lados. Não é pecado a diversão,
mas até a diversão merece um pouco de distanciamento.

O filme parece ser uma série de "referências", permeadas pela bela fotografia e um enredo frágil, mas didático, que corre fácil. Antes de ser uma originalidade em cima de elementos pop é mais um, sem muita novidade. A novidade é a roupagem "rica". É um filme, no fim, de imagens, um filme onde cor e contraste são o roteiro.

Como disse Michel Laub - BRAVO! edição nº 78 (março de 2004):

"Um certo esteticismo já dá o tom aqui: com sua ausência de referências políticas, reflexo do fim da era das ideologias, e sua dedicação à metalinguagem e às paródias, resposta ao make it new moderno, o pós-modernismo chegava às telas em larga escala. Cães de Aluguel se abstém de traçar painéis e julgar." http://www.bravonline.com.br/noticias.php?id=783

A cultura de massa deixa de ser culpada e passa ser a "cultura" de onde se tira a cult-ura. Um mundo sem trocas, sem grupos, mas com Tvs e internet. Quando não há como sair da redoma, você se fecha ainda mais nela. Uma incapacidade total de entender, relacionar, refletir, politizar, mudar... Adolescência eterna...

QT é o mestre das artes que parece conhecer todos os diretores, todos os filmes banais da história. Talvez seja só a mídia e os "intelectuais" querendo um "novo nome"...

Os filmes originais de kung-fu, têm algo de humor que é a velha fórmula oriental da harmonia dos opostos: é bom um pouco de açúcar no sal e um pouco de verduras na carne, pois eles se misturam e formam umtodo mais completo. Humor (sem graça) no drama é uma das coisas que mais me irritava nos animes no início...

Os "seriels killers" asiáticos, assim como os animes, são desenhados com um tamanho "deboche" que não se pode ter neles mais do que um rascunho zen ou uma máscara Kabuki: é a essência, mas caricaturizada, simplificada, tornada geometria.

Você não pode levar a sério, mas ele também não se leva a sério (sou cultura de massa, e ponto!)... (Ou talvez, na nossa cultura secular liberal, cínica, o que é aceito como "arte" por outros grupos seja impossível, como as cenas mitológicas de serpentes e homens musculosos do palácio de Saddam Hussein, para nós, horror kitsch!)

Mas Tarantino parece fazaer as coisas com ar de "arte" (nos EUA, muita coisa já foi levada á sério....) Ou, pior, assim como juntar milhões de sacos de lixo em uma esquina, não é simplesmente arte, mas "arte pós-moderna", explicada por Foucault.

A diferença para "Pequena Miss Sunshine" é evidente. Ele "vê de fora"... Cortar a cabeça de um membro da reunião, um braço, 450 galões de sangue falso, parecem uma piada ou uma reflexão? Não sei ...

Referências pop fazem parte de nossa vida no mundo-ficção, mas elas precisam- mesmo que desordenados, mergulhados no caos - de um material ético, crítico, ou caem na mesmice...

Talvez depois do 11 de setembro, a violência tenha entrado na vida cotidiana dos consumidores de entretenimento de forma a redesenhar a contúnua fagocitose do "marginal" pelo "estético"...

O diretor disse em entrevista a Bravo:

"Sempre gostei de filmes sobre vingança, da simplicidade deles, sejam westerns, filmes de kung fu, policiais, filmes de samurai, de detetive.Você estrutura o filme conforme a lista de desafetos que o vingador irá eliminar.
(...)

Na minha opinião, violência é aquilo de mais cinematográfico e divertido que você pode fazer num filme. Não agrada a todo mundo. E nem precisa. Mas, por mais que se discuta isso, para mim as seqüências de ação são as que mais se aproximam do cinema em seu estado puro."

http://www.bravonline.com.br/noticias.php?id=783

Se você vive a cultura de massa e reflete sobre ela, bom para você. Se você é cultura de massa, péssimo para nós...

quarta-feira, abril 11, 2007

Orgia, coro e populismo...

Revendo um ótimo site com entrevistas sobre teatro,
http://www.teatrobrasileiro.com.br/
deparei com a explosão do Zé Celso.

Uma pessoa totalmente consciente, percebendo tudo, o tempo todo.
Na entrevista ele fala da época da ditadura, de como criou suas peças, mostrando por que é tido como um revolucionário que fez Artaud e Brecht cantarem o tropicalismo. Quando ele detona a elite industrial e intelectual de São Paulo, "não estávamos educando o povo...", me lembrei do meu amigo inglês que acha os brasileiros pedantes e questiona afinal porque a USP é tão francesa e a Bienal by "Internacional"...

Dá o que pensar pensar que hoje quase ninguém tem coragem...
Há um mundo de cópias, cópias de cópias, e uma linguagem pessoal é raro...
Como diz um amigo meu, você vai ao teatro e vê o estilo Antunes, Zé Celso, Terreira, Butoh...
Não deu pra não copiar alguns trechos:

****


Folha - Exceto pelas drogas, os tabus contra os quais seu teatro se insurgiu foram destruídos. A família patriarcal não existe mais, a repressão sexual é tênue, o capitalismo é quase consenso. Você não vê o risco de estar arrombando portas abertas e, por outro lado, estar dando murro em ponta de faca?
Zé Celso - Não estão abertas. Eu sinto uma censura enorme.

Folha - Pelo lado econômico. Mas que censura moral existe?

Zé Celso - Mas é evidente. Nenhum banco vai financiar uma peça em que uma pessoa do público é ''estraçalhada''. Não faz.

Folha - Mas por razões muito mais econômicas do que morais.

Zé Celso - Não, imagina. Por que financia uma peça qualquer? A peça não existe, passa. Vai ficar a marca do banco. O importante é a marca, e a marca está ancorada numa visão tradicional. Existe uma censura nítida. ''Não, não condiz com a imagem da nossa empresa.'' E a imagem da empresa condiz com alguma coisa. Com uma noção de Deus, de bem, de ordem. E as pessoas colocadas, empregadas, numa sociedade em crise social como esta, é evidente que farão tudo para se manter. E isso implica acreditar que é eterna esta situação. E não é eterna.


Jornal: Folha de São Paulo. Domingo, 31 de agosto de 1997.
Cadernos: Mais! Pág. 5-4, 5-5, 5-6, 5-7 e 5-8.
Entrevista Concedida para Nelson de Sá e Otávio Frias Filho.

quinta-feira, abril 05, 2007

Des-controladores

Existe uma coisa que anda me incomodando faz tempo...
O estardalhaço da mídia sobre o caso "aeroportos" e o silêncio sobre a versão dos controladores...
Até agora não ouvi em lugar algum uma boa explicação sobre isso, parece que a TAM fez overbooking, mas não fica claro...

Senão vejamos: o Jornal Nacional de Hoje teve uma super manchetona de "depois de promover o caos no país..." e a ZH passou um mês com o tema na capa...
(Lula na reta? Pode crer.)

Alguém que leia isso daqui há alguns anos vai jurar que foi o pior problema de década de 2000...
Sei que isso envolve autoridade militar, e uma porção de coisas que não entendo e não estou disposto a buscar agora no google, mas quem sabe há mesmo trabalho extra, stress do vôo caído, ou baixa remuneração, etc... não ficamos sabendo nem de perto quais as reais exigências dos controladores. Será que uma máfia quer derrubar o país? É isso que se insinua, mas será?

E tudo acabou com uma revolta geral, com Lula dizendo "fui traído!" e simplesmente trindo quem ouviu a promeça de não punição.

O caso todo é muito estranho, mas mais estranho é a abordagem da mídia, que nos deixa sem nenhuma informação coerente ao mesmo tempo que insiste no assunto.
Parece querer dizer que a culpa é do Lula, mas obviamente isso insulta nossa inteligência, pois um presidente não governa tudo pessoalmente.
Não sei, só sei que fica a impressão de que algumas pessoas da mídia não andam a pé faz tempo, e tomam um caso sério, mas pontual, como a nova Queda da Bastilha.
Curtas: Inferno Tropical e a Cultura Popular
(já que alguém disse que blog tem de ter título!)

Acabo de assistir meu primeiro capítulo inteiro da novela Paraíso Tropical. Não sei se ela andou mudando de romance bahiano para cinismo urbano, mas achei muito bom. Uma prostituta que não quer voltar a dormir na praia, um pai rico que casa o filho gay, mauricinho que odeia a Lapa, etc.
Pelo menos é um refresco depois do catolicismo militante da "Páginas..." O máximo que a indústria do lazer pode chega rda crítica social...

***

Hoje ou amanhã (quem se importa) vai acabar a Amazônia. (A outra, dizem que é em 2081, e, com isso, eu me importo!) Bem entendido, a trama... constrangedora.

A idéia cafona de fazer um "floresta melhores momentos", em linha reta, mais reta que comercial de margarina... foi incrível ver como, de tão previsível, didática e estereotipada, conseguiam resumir em 30 segundos de comercial... Você assistia o capítulo e não havia nada, nada que fosse acrescentado... "Eu vou lutar pela liberdade" acho que ouvi alguém dizer. Um sacrifício total da forma, da sutileza, da inteligência do espectador... Os anos 70 vieram um dia, mas já era tarde demais...
Como já disse Carina Martins, a TV está mais covarde do que nunca, vide O Profeta (um moralismo alucinante, mas que ganha um pouco pelo enredo estruturado, um alívio depois de "Páginas" e "América", ainda que as falas sejam pobrérrimas, "mamãe, você não vai me deixar, vai?"...)

Mas Amazônia foi cansativa, pedante, positivista, um mar de água doce, se me permitem o trocadilho... Parece que entre o "agradar milhões" e o "cult TV- ainda podemos criar" ficamos tristemente com a segunda opção mesmo onde era um paraíso autoral... ai, ai...
***

Estou relendo com prazer Peter Bruke, Cultura Popular na Idade Moderna...
ele fala sobre o momento em que a cultura de elite se distancia do povo, Reforma, Contra reforma, e acabam os laços comunitários, festas, rituais coletivos, Carnaval e desperdício...
E não dá para não pensar o quanto isso se acentuou com o capitalismo industrial, dinehiro fazendo mais dinheiro e comprando mais "inteligência", tanto que agora há toda um cultura de vanguarda, com gente se "mascarando" de rebelde quando na verdade é pura conformidade, mediocridade e medo de não ser alguém...
Esses dias eu olhava o sinal amarelo e pisei a faixa, onde normalmente ficam carros estacionados, um carro enorme e prateado deu duas businadas enquanto vinha em minha direção, alucinado.

O cara estava com um olhar feroz, tipo "perdi 2 segundos, porra!!!!!!!!!!"

Vi, chocado, um vídeo da cantora (?) Tati Quebra Barraco em apresentação ao vivo na TV pernambucana, onde, quando o apresentador diz "mais uma Tati!" ela responde "Não, valeu!" e vai embora no mais...
É, adeus ao Carnaval...

ajr

quarta-feira, abril 04, 2007

Foram artistas, associações, jornalistas, todos dando "apoio" a Sobel. Mas o que significa um "apoio" desses? Ou se trata de um desequilíbrio momentâneo, ou foi cleptomania, ou... ouu... não, não pode haver "ou", afinal ele foi contra a ditadura... ou... não, não ele defende a tolerância... ou, ou... falei! foi um desvio de caráter, sim, porque falar em democracia não é vivê-la.

(E, naquela manifestação de 9 horas pela paz que ele participou com certeza havia muita gente fazendo pose de "classe média ofendida" que quer mais segurança, mas nunca pensou como e por que o governo não tem dinheiro, ou separa o povo feliz do profissional liberal feliz. )

Claro que essa seria a menos agradável, a que mais nos toca, pois será que todos nós temos um vilãozinho alí dentro, louco por Gucci e Louis Vuitton transviados? Será que somos assim tão precários?

Essa foi das pequenas coisas que mostram grandes coisas: alguém falou das pobres crianças que também roubam motivadas não por "desequilíbrio" mas pela sociedade (humm, o mesmo esquerdismo que odeia tudo que não vem da USP...) ; depois, que o próprio Sobel disse ser a favor da pena de morte (mas voltou atrás) e criticou o filme "A Queda" por retratar Hitler como um ser humano (o que é pior é que ele ERA um ser humano! Dormiríamos melhor se fosse um marciano!)
Então, constrangidos por termos sido pegos em nossa fraquesa, e solidários a um homem que teve uma postura ética a vida toda, só nos restaria um silêncio triste. Porque falar, às vezes, estraga tudo:

"Questionado, ainda de acordo com o boletim de ocorrência, Sobel negou ter pego a peça, mas, depois, chegou a se oferecer para pagar pela gravata antes de admitir o furto."

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u133615.shtml
FSP, domingo, 01 de abril de 2007

"Na quarta, dez universitários de Guiné Bissau sofreram um ataque em um alojamento do campus da UnB, quando portas de três apartamentos que ocupavam foram incendiadas. O reitor, Timothy Mulholland, não associou o episódio à fala da ministra."

ÃHÃ... então a Ministra incitou o racismo ao dizer: "A reação de um negro de não querer conviver com um branco ou não gostar de um branco, acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso..."
Sinceramente, a Folha parece perder todo o senso quando se trata do governo Lula... Que coisa!

terça-feira, abril 03, 2007

Fui assistir o último filme de Woody Alen, Scoop. Não sei qual teria sido minha impresão se não tivesse lido a bendita crítica no mural do cinema. "EntretenimentoX Cinema Cabeça". Bem, sentei na sala sabendo que essa era uma produção menor, uma derrapada do gênio, que muitos não haviam gostado... Prazer culpado, enfim...

Uma das coisas que me fez comprar o ingresso, depois da leitura, foi a conexão com "Assassinato em Manhatan", um filme em ue simplesmente tive de virar de costas para a tela, tamanho o acesso de riso...

A história é simpática, singela, lá está o falante americano agora como mágico. Mas não tem a mesma graça de "Assassinatos". enquanto aquele representava tão bem a briga de casal "sonhadoraX realista" este protagosnista masculino não convence com seu bom senso, apesar de tiradas engraçadas... sim, e ele tem graça suficiente para fazer uma cena no barco grego dos mortos, com Caronte e tudo .... (A mesma maravilha do coro em "Descontruindo Harry"...)

A grande graça é justamente essa, a arte como brincadeira, a liberdade de rir de si mesmo, de escrever "A tempestade" depois de ter escrito "Hamlet". dizem que o último espetáculo de Pina Bausch que veio a Porto Alegre foi criticado por ser pouco Pina Bausch, ser leve, divertido, despretencioso... é aquilo, hoje você compra uma personalidade consumindo os "artistas" do momento... deixem Woody tirar meleca do nariz!

ajr