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terça-feira, março 30, 2010


Sim, Justiça!


Benjamin, ao que parece, achava que em qualquer ponto da superestrutura aparecia a infra. Não muda nada no Brasil, mas é catarse geral. Só sei que foram 152 milhões de votos, como se todo brasileiro tivesse estado ali! ("Votei mais de 3.000 vezes para o Dourado vencer", diz Déborah Secco. No piada.)

Diante da nossa insegurança pós-moderna por identidade, do amor dos brasileiros por pessoas, do poder de expansão da TV, etc., sim é um fato. E também (o oposto também, Aristóteles fez o princípio de não-contradição porque nunca esteve aqui) o talvez país mais "pobrefóbico" do mundo acha que ignorância é feio... depois de tanta escola e faculdade!

Na véspera se leu:

"O participante que tem uma suástica tatuada no braço e levanta da mesa quando o assunto é sexo gay está na final". (Patrícia Kogut, comentando alguns fãs doidões. Ainda a velha história da suástica, ai que sono... coisa de "teen" só para poder dizer: tem mais de 3 mil anos!)

Pois é... Dourado vendeu, ufa! O cara que era o malvado e ia sair já-já (frase besta do Mc, ele já teve a chance, ssss....)
O choro de 1 milhão de Reais, como com Bam-Bam. O protagonista, sempre nos disseram, é aquele que muda...

Apesar do ódio que despertou e de seus polêmicos e micos dizeres (tipo hétero não pega AIDS e "pessoas normais", se referindo aos (não) gays), ele mostrou carisma conquistando pelo menos a Máfia Dourada, que dizem ser mais de 100 mil seguidores dispostos a votar noite e dia...

O mais importante: não agrediu ninguém (depois da transformação), não implicou (é, acontece né Dc) com quem lhe deu a mão.

(Minha segunda favorita era a Lia, histérica, mas percebia bem o jogo. Aliás, ela salvou Dourado. O lance mais fenomenal que eu já vi no BBB foi quando ela sacou a Tss, votou nela chorando e tirou a vilão no Ato 1. Cadu conquistou o Brasil, bom, bonito e leal, mas não se expôs tanto... talvez, por isso só ganhou 11% dos votos).

Esta edição foi uma das mais chatas pelo merchan exagerado
(Folha: "A rede fez mais de 60 merchandisings durante os 78 dias de confinamento, média que supera uma ação a cada dois dias, e teve 25 anunciantes. ")
, em cada prova, em cada escolha e causou um certo incômodo quando parecia anunciar todo mundo pela profissão: o advogado, a doutora (em quê, gritaria?), a dentista...

(Nossa doutora, francamente... texte de QE pra entrar!)
Mas a seleção provou ser bem feita, pela diversidade: excluídos os excluídos, os "feios", selecionados os homens-mulheres-objeto, tudo deu certo.

Depois de tanta gente falando em processo, vamos aos símbolos.
A bruxa malvada dessa edição ficou até difícil de escolher, mas... Tss é campeã. Ela sup-er-a. Prefiro a ignorância autântica de Dourado (posso rir dele...) que o politicamente correto-falso de uma Tss. "Na fotinha" sempre. (Né? A explosão da publicidade seja-eu e a falta de igualdade apareceram na TV!)

Pareceu-me o símbolo de (muita gente de) uma geração acostumada com a aparência como essência: parece que usou mecanismos suspeitos para ter 120 mil seguidores, só pensava em jogar, fez sexo para ficar na casa... Talvez represente muito de um jovem criado com a idéia de que "tudo é poder".

Mc, o príncipe, fez papel de bobo e depois conseguiu virar o jogo quebrando o que parecia uma Liga da Justiça, o lado do "bem". Aqui, outra lição de RP: faça cara de alface, sorria e forme conspiração. (Fica até a dúvida se não teria manipulado os instintos de Rossé, para tirá-lo do Lado A).

Sg era mesmo bobo, Dc era fofoqueiro (que decepção! por que logo o gay nóis- na- fita, já-ganhou foi fazer o estereótipo da tia-velha - segundo foi chamado- o maldoso?), Ag era sim jogadora braba e quem explica?

E a sem-sal loira Fn era mesmo uma princesa que viraria sapo. Parece-me incrível que a "turma do bem" tenha ficado sem perceber sua "diferença": Sg se deixando levar pela sedução de Mc foi deprimente. Lia, Cadu e Dourado foram os únicos que mantiveram sua posição, vendo com clareza.

O que mais emocionou nesse BBB foi a inconstância das pessoas, seus dois lados. Aprendemos um monte sobre explosões emocionais e gente que não pensa em outra coisa. Cd pareceu que iria pegar o Sg a qualquer momento, até mesmo noticiaram outro gay na casa, e nada... nem com ninguém. Estranho.

(Ainda mais ele falando "que não se sentiu atraído por mulher alguma na casa, embora eleja a amiga Lia e a vice-campeã Fernanda como as mais belas do programa"- segundo a Folha).

Muitos gays saíram-se mal nesse jogo: achei desnecessária a coisa "nós perdemos" quando Dicesar saiu (merecidamente) e briga pelo twitter chamando El Douradon de homofóbico:
homofóbico é quem tem uma causa, não quem desconhece. (Leda Nagle, noTwitter: "Isto é ignorância não é homofobia")

Esse debate todo - com gente dizendo que ele é "lixo", gente prometendo sortear 50 mil para quem votasse contra, sites do exterior pedindo votação contra homofóbico, Gilberto Braga super-poli.cor falando "paraibazinho chinfrim" (sic) -

me deixou pensando que, na contemporaneidade, desfocamos as coisas com nossa pouca-muita-informação ("os nordestinos são pobres porque não querem trabalhar", ouvi esses dias...), vivemos tão fechados em blocos, guetos, apartamentos, que temos a ilusão de que os problemas sumiram (veja, na Paulista, tá tudo bem...) e não temos paciência/vontade com a ignorância, educar o diferente, com ampliar a ilustração. (Sim, Iluminismo, por favor!!!)

Afinal, educar pressupõe trabalho, busca... e, claro, criar um bode expiatório não vai ajudar.

(O gay elite assumido-faz-tempo pode mesmo levar um susto com o Brasil: vide -)



O Brasil amanhecerá igual: empresas superfaturam obras para financiar políticos, déficit de moradias em SP de 1, 5 milhão, aquela homofobia cultural que pretende tirar a Parada da Paulista porque "Jesus está no Campo de Marte"...

Mas eu sinto um sentimento de justiça. (Onde a injustiça, a certeza da própria superioridade da classe média, é nossa carne há 500 anos. São Paulo é o mega-show disso: muita diversão para a classe média, erudição transbordante, velhos famintos e crianças sujas pelas ruas...)

Um sujeito que não falou mal, não trocou de time, não ficou na moita, soube ver o jogo, ganhou. A leitora do Big Blog Anna acertou: "Eu aprovo a vitória! Ele é um homem com seus defeitos e qualidades como qualquer outro ser humano, a diferença é que ele não tentou ser o 'perfeitinho' para a sociedade..."

Semana passada vi tantas pessoas gritando "Justiça!", quando da condenação dos assasinos de Isabela. (UFA!!!!) Há no ar essa sede.
Quem sabe um dia...

Um comentário:

Amanda disse...

Esse papo de homofobia foi viagem mesmo...ele nem conhece gays e adorava o Sg...Num jogo onde "ninguém mais é bobo" e todo mundo faz tipo, apareceu um cara que não queria ser outra pessoa: ele achava que ia perder mesmo...mas ganhou. Ganhou com escrotisse, grosseria, mas uma certa liderança e força (e honra!). Ganhou com uma sinceridade de ser vilão, falar mrd e poder se arrepender. Quase chorei.