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quinta-feira, julho 22, 2010

O crime

O Brasil está estarrecido com o crime. Nossa primeira reação é descrever os suspeitos como psicopatas, mas aonde isso vai nos levar?
Onde se aprende a tirar os obstáculos do caminho com violência? O diálogo existe para a maioria da população?
Há, apesar de tudo, muito o que pensar. Por exemplo, viu-se que o pai poderia ser um pedófilo. Muita gente do meio psi me conta que isso é muito mais comum do que se imagina, ainda mais entre as classes desfavorecidas, onde, barbaramente, serve até mesmo de “sustento” da família.
O ocultamento de corpos é prática comum entre os criminosos organizados. Até mesmo o número de óbitos acabou baixando.
“Quem nunca saiu na mão com uma mulher?” – disse Bruno. Será que as mulheres ainda são vistas como objeto, são espancadas, são submetidas a um machismo grosseiro? Um grupo de professores que visitou o nordeste voltou chocado com os abusos dos pais, abusos sexuais, espancamentos, etc. “O mesmo machismo da favela em São Paulo”, disse-me uma amiga. Isso nos lembra do “Puta!” na universidade e da própria dizendo que a aluna era culpada.
É inevitável pensar sobre o fato de que existem grupos de extermínio, alguns ligados à polícia. Muitas mortes podem simplesmente não ter atraído a mídia. Volto a relatar o que disse uma moça que trabalha com a UNESCO: a imprensa tem medo de enviar repórteres à “periferia”, o que torna a violência invisível.
Ainda há a questão das meninas que foram adormecidas pelo sonho de sucesso, representado pelas modelos e celebridades (até do futebol). “Tem jogador que liga dos Estados Unidos, sabe que você já saiu com vários, e quer negar, é complicado!”
Um dos amigos conta que ele e o goleiro passavam fome e comiam pipoca na parada de ônibus – até ganhar 200 mil Reais por mês. Será que criamos uma sociedade de excluídos, que vende a ilusão de que o luxo é o sentido da vida, e, portanto, exclui da humanidade ricos e pobres? Jovens adolescentes estupram uma menina, e seus parentes, donos de uma rede de TV, dão a lição: não serão julgados pelo público. Nada pode explicar a maldade, mas é possível olhar o campo fértil que a fez germinar.
A polícia também parece estar acusando e condenando – é sociedade do espetáculo? Uma semana depois a TV repetia infiniatamente o já sabido: notícia ou delícia (sádica)?
Como a polícia não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo, é preciso a cooperação, o consentimento, o que só se alcança com a distribuição da felicidade. A pena não basta para criar a ordem, é preciso valer a pena. A opressão e a injustiça levam os homens à idolatria da força.
Benjamin achava que um pedaço da realidade espelha o todo. É interessante se transformarmos o horror em análise. Uma sociedade onde a lei é para a minoria ensina que sempre é possível resolver “no braço”. Um governador responde a um jornalista que o questiona sobre os pedágios: “Seu discurso é apenas o discurso do PT”. Onde o diálogo? “Resolvam o problema” - é uma frase que poderia estar na boca de muitos senhores feudais econômicos e políticos.

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