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segunda-feira, setembro 20, 2010

“Roberto Zucco”

Pois é, eu saio da minha casa, ando pelo centro à noite, espero uns 30 minutos e vou ao teatro ver “Roberto Zucco”. Vocês já ouviram falar daquele texto que em 10 min te entediou?

("Não se trata somente do dramaturgo francês contemporâneo mais encenado no mundo: trata-se de um escritor completamente singular. (...)Passados mais de dez anos de sua morte, ele aparece como um clássico contemporâneo." Fica difícil saber se é a filosofia ou a montagem...

http://www.opalco.com.br/foco.cfm?persona=autores&controle=7 )

Salvam duas grandes atrizes, a irmã e a madame francesa robótica e um irmão brabo bom. E a movimentação da arquibancada, bom. Faz algum sentido incesto e virgindade hoje? Bordel com boá, menina com laço, cara branca, bobs no cabelo... Tem cadeira de interrogatório, momento Lady Macbeth louca, videozinho, briguinha, monólogo sobre a vida...

Ontem assisti a uma entrevista do Boni e ele falou da falta de “conteúdo” na TV brasileira, que era preciso trazer “gente de fora” (como ele fez com Dias Gomes, etc.), que estejam perto do comum e do cotidiano. Grande verdade: em um Brasil cheio de moradores de rua (vi um caído com sangue e moscas na esquina hoje), 1 milhão de dependentes de crack, uma classe média zumbizada que não vê sentido na vida, vestir roupa de Nelson Rodrigues cansa.

E levanta a pergunta: por quê? Para ser “artista”? (A Boa Companhia, em contrapartida, arrasa mesmo quando o enredo não é tão bom, como em “Portela, patrão; Mário motorista”. “Tão bom”, mas bom, com começo meio e fim e um trabalho de corpo e interpretação que o valoriza. Uma reflexão sobre a exploração e a violência da vítima que “denuncia” sem chatear).

O mero acúmulo de palavras e cenas aleatórias lembra o jornalismo de “agenda” de que fala Boni, que repete o mesmo e não investiga nada. No fundo reflete uma falta de critérios, um “vale tudo” moral, onde a arte é neutra como um canal que não pode ofender ninguém.

(Duas cenas exemplares: no Fala Brasil, da Record, logo após noticiar que uma mulher foi baleada na cabeça, a repórter aparece rindo para a próxima notícia; hoje, novamente, após falar sobre um pedófilo que vivia com uma menina de 11 anos, aparece toda contente para falar de um periquito). Esterilização mesmo da violência nossa, interna, pois o ser humano já seria um perigo suficiente se algo nos alojasse no corpo. Pinter e Sarah Kane aí, dando sopa...

Sorte que uma irmã incestuosa (que dá o texto com toda a sutileza possível neste texto) e uma dondoca parisiense cômica, histérica e sorridente, uma cena legal ou outra (o banco da praça, um musical melodramático, movimentos de uma multidão solitária, etc.), mas já no fim e que não levam a um crescendo de inquietação, salvam o que poderia ser uma didática geral do “oh, o mundo sem amor.” Para que?

Roberto Zucco - Espaço dos Satyros Um. Praça Franklin Roosevelt, 214, telefone 3258-6345. 6ª e sáb., 21h30; dom., 18h30. R$ 30. Até dezembro.

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