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domingo, dezembro 30, 2012

elegia para a metrópole



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Ah, bela, engenhosa Fidalga 
vento-ideias, continente-ânsias
(os escravos viram bicho para sair do trem enlatado
o escravo que cuida da segurança e repõe mercadorias no supermercado
ficará parado no tempo por uma cama quente
os deuses da guerra com as mãos manchadas de sangue
debatem que não podemos mudar, não podemos tirar
os homens não partidos mas emparedados em cimento quente
porque vivemos no século XVIII, vivemos entre bons proprietários amigos)

São Paulo, caminhos a urgência do planalto e os poetas empilhados na terra
alimentando nossa em potência infância
pátria dos que correm o mundo com o teatro
cor da lona de circo, trocas, antigas de trilhas -
força e reencarnação - do pensamento
castelos de sonho brotando do osso adubo
teus anarquistas, teus presos, teus rebeldes
abolicionistas carregando um herói morto
e os ieieies da Augusta e Wisnik
um lado que vibra e flutua com o tempo - e ordem mumificada
o deus Hermes abre os livros em terras puras
contra a Serpente gigante que tudo congela
começam sombras e aventuras

I

Ah, bela São Paulo, te olhar com olhos serenos
Tua alma é serpentear e exibir para procriar
Tanto me deste, me tiraste – eu brotando e gemendo
a violência do inferno que arrasta para a não existência
(possa eu retomar o rito e olhar o dentro de silêncio sem medo de definir o certo)

Sinfonia no tempo, energia crua do raio, que tudo renova
Amiga do conhecimento, amiga e irmã desonrada e fodida
As fachadas da tua antiga glória - olhar onde se compra e se vende
Alegria da instabilidade, onde teus czares refazem caminhos
Camada sobre camada de flores plantadas que ninguém apaga
Enquanto teus reis tentam um novo mapa, vender a terra, controlar
O hoje como violência, a folha na roupa, o salto do salmão

Dança dura e esperança
O sentimento de um cão
O inferno do pobre, o purgatório do guerreiro, o paraíso do parasita
Eu te desejo muitas árvores, e a graça da tua história que salvará as almas mortas
(Andam fantasmas ladrões de alma, gritando pelos vidros espelhados)
Quando a gente ama, vira poeta

II
A intriga, a sombra, a vaidade
(Nascidas da solidão? que a arte alivia?)
Eu acuso a aristocracia delirante
Meu amor não é olvidade
Feita de sementes, e de duro embate
E onde tudo brota, deseja e espera ardente
Eu conheço o sombrio medo da cidade
Uma fétida Medusa, um jovem poeta? entre da gente os passos
(que olhar de pedra te fez? quem criou teu desespero?)
Insetos venenosos proliferam
Uma doce melodia tu cantas, manda um Rato

III
Rainha dos velhos tempos engravidados
Que seriam teus campos semeados
Se tua nobreza os olhasse brotados
Eu acuso a aristocracia brilhante
E a diplomacia e a condescendência de amabilidades mofadas
Por que Fiódor, eu não posso descrever paixões do céu e da terra, luz e sombra como tu?
Por que eu navego em tempestades de copo e tudo ao redor tornou-se trivial e conversa fiada?
Por que não existe o erro, a filosofia, a política, a sociologia e a religião são imensas, dão sono e sobem muito alto para nós?
A minha geração não tem inimigos porque é frígida, ama o sucesso e o sono
Treme em desagradar os poderosos, em derrubar e lutar pela luta
O mau gosto: um ponto de vista.

IV
Máquinas gigantes, multidão, cancan do girar infindo
Um povo forte espatifado e uma nobreza doentia
Um pouco analfabeto sem dentes pop e violento
Um pouco internacional belo filósofos e violento
Deixai as massas apodrecerem?
A febre individualista de uma cidade que tem medo de dizer-se
O deixar ir e a paixão do coletivo
Terra de Heráclito, onde conflito, discórdia e guerra
Esconde uma pulsão maior – eu louvo teus cantos diversos
Deusa de aço e corpos suados e peixes no Tietê
Tua ousadia, teu espírito bélico, tua sujeira e maldade
Maracas tonificadoras, deixe o pensador gozando no alto monte
Teu manto de pedrarias e de sonhos e jade
Tuas ruas, dedos de ouro, flores, cavalos marinhos
Em cada cérebro tua dança selvagem lavra, apodrece e germina
Viva tua gula pelo novo, tua distância, teus ganchos para nervos excitados
Gerações fizeram teu banquete, com pó, sangue e coração cortado e aberto
Agradeço tua boca que me devora, onde tudo se cria e copia, mar
E, esse incessante tambor que mostrou mais e diverso,
Prazer da régua, universos, logro, saber por outros logos
Lutemos por organizar sendo o centro móvel com o passado
Salas vazias, corações de plástico - tornei-me japonês, os anjos dos mil cantos da terra
Onde todos são índios, os olhares aceitam apesar de tudo
Quantas janelas para vidas, quanta fúria descoberta, como se pode ser humano
Caiam as cataratas do esquecimento sobre a tempestade que me desloca na parada
O céu, teu céu foi preso em cinza e leis, mas os deuses de ferro também caem
Amo-te, mosaico máximo, defende tua liberdade!

V
Mas os palhaços sádicos chegam com sua barraca
 - A rica pensadora livre com seus cachorrinhos e contra o comunismo
O grande político que vive de engenharia e partidas de vôlei
O fanático jovem que despreza a política para fazer a revolução
O jovem repórter assustado sem tempo para pensar e descobrir
A futilidade, a arrogância e a raiva dos duendes maus
Não são esses: pó luminoso e asas azuis em pés de fada
E os tigres que falam e as pedras cantoras; rios de chocolate e atores
Que olham da Lua e da Lua choram e riem, o peso
Vida dupla, vida detetive, sanfona e sapateado com sarcasmo
Porque a razão faz tudo mover-se e circular, eis a força!

VI

São Paulo, a chuva no dia imundo
a dor do saber contra o reino morto
Mário onde cabe o mundo

e um instante de pura alegria
memória viva e desejar
caos e poesia

catedral de forças
aranha incansável
tece um eu de milhares

teu passo agitado por entre casas
perder-se, ouvir, o sonho
um pouco de chão e outro de asas


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O trabalho elegia para a metrópole de Afonso Jr Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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terça-feira, dezembro 25, 2012

Força maligna 


Eu estava exausto e desnorteado. Que outras torturas sofreria? Viriam o carrasco, o espião, o homem de fé perturbar meu corpo e mente? Meu vigia começou a contar sua história delirante: “No início, eu tinha uns 18 anos, ligaram para meus pais da escola pedindo que eu não fosse. Logo eles escondiam pessoas e queimavam livros. Os jornais estampavam: Um dia glorioso para o país! Eu parei na esquina para falar com colegas. Um policial se aproximou, furioso: Mais de dois é comício, disse. A universidade foi cercada. Começamos a tomar drogas num gesto louco de rebeldia. Fomos levados para um campo de trabalho, ou, como descobrimos depois, de extermínio pelo trabalho. Tirávamos minérios da terra, vivíamos sujos, sem comida, sem remédios, apodrecendo. Os piolhos nos sugavam e cresciam. Eram muitos, na confusão mental em que estava, e tendo ouvido falar que inquietações nervosas geram alucinações com insetos pelo corpo e infestando as casas, pensava se o inferno não seria  fruto da desorganização de nosso cérebro. Muitos choravam e tinham ataques de fúria batendo a cabeça na parede, ou começavam a tremer, ou falar com os mortos com os olhos fixos. Um deles chamava pela mãe a noite toda, mas nós nem ouvíamos mais. Começamos a comer os piolhos infectos no nosso desespero. Meu pai, por fim, descobriu meu paradeiro e comprou os guardas para que eu fosse transferido para cá.” Eu lembrava da criança alegre que fora e de como gostava de andar à cavalo e comer amoras no campo. Que outras torturas sofreria? Naquela noite, quem viria perturbar meu corpo e mente?  

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domingo, dezembro 09, 2012

Homoioi


A velocidade cerca torres e mármore
Velho que anda como um animal faminto
Como contar-te tão carne sem ritual no abate - um moralista, realista, servo da fábula
eu, bufão da cidade, nem amo nem escravo, sacerdote do deva Fala
responsável por sacrificar com elegância para que as almas do Geush Urvan circulem -
e agora a chuva
Teus pés inchados vermelhos na pedra fria
De uma cidade nova, que faz tanta beleza
- A natureza existe já como cultura
são as máscaras que fazem o homem
os impulsos elétricos emitidos, a identidade
máscaras - ideal sobrenatural do ser
- o que troca moedas de diversos povos
sendo ele estrangeiro, varejista da agorai
é Hermes, pai das redes e dos novos produtos -
e você que não sabe o que é Decadência
e você, que cresceu como uma folha riscada em dois lados
não leu a Bíblia, você que não conhece vorticismo, Melancolia e simulacros
tua troca é um espelho horrível, metal sujo e ossos no cimento -
Velha senhora, roupas imundas, homem doente
Tuas unhas sujas, teu cheiro, teu olhar triste
pernas descarnadas no meu caminho que não quero esquecer
Mãe dos desejos vãos, Terra sem Dono
A decadência de uma metrópole brilhante
Brasil Paraíso onde o vento e a mata virgem
Que preconceitos, que arrogância metálica
Produz tua invisibilidade?
- A miséria não produz arte: o trigo russo, o vinho fenício,
perfumes e vasos pintados, ouro e prata e plumas, sim -
Que orgulho, que ignorância mortífera
no mesmo sempre ainda tema da guerra
- açoitados dolorosos quebrados em nossa semiótica e o Teatroclássico e fazeroquê
circulando entre hilotas ensinados a comprar motos e armas e aristocracia complaining em piscina de pérolas e livros e os pássaros cantando -
Nos acostumaram à misturar rebeldia nova e ferro velho
- o ignorante despreza, o erudito aceita e deseja -
Dandismo Luiz XV em noites, água, flores e veludo
Enquanto mais uma noite fria te açoita,  homem antigo


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domingo, novembro 25, 2012

A cura

Senhoras e senhores, muito obrigado. Então, quando eu comecei a pesquisar esse caso - tão repleto de perversa mecanização, tão simbólica de um homem como objeto e que, ao mesmo tempo, coloca a questão da relação entre sistema e intersubjetivo - eu perguntava: pode a mera descrição de um fato ter um efeito artístico depois que a realidade superou todos os efeitos de choque? Como é possível a mímese - tudo é sempre construção, o "como era" morreu na Primeira Guerra, o sistema nervoso não se interessa, o tema é a forma. Então eu perguntava: uma mulher; 25 anos; morando na praça há vinte anos; e como contar? Como incorporar o "Clube dos Donos de Ferraris" da China, e suas fábricas escravistas, os milionários americanos construindo réplicas de Versailles, com salões para mil pessoas, num país com salário estagnado há 30 anos, e o uso do Irã para não negociarmos a paz? Com as unidades de linguagem arbitrárias e diferenciais? "Mamão" não se liga a uma forma natural, "cigarro" ou "pinga" só existem em relação aos outros signos... Aqui, os reflexos da arte na esfera da autonomia, desde a organização idealista da forma por Aristóteles - Sócrates chamara os artistas de mentirosos - passando pelo desinteresse sem referência à vontade, ao desejo do agradável e do bom, de Kant, até a "arte inútil" de Wilde, colidem, se reformulam, transitam perante o simples fato de que o "Vendedor" impunha o falocentrismo na troca assimétrica, sendo ela a única mulher entre os "bufões" despersonalizados pela rua. Como diferenciar num mundo determinista os limites para uma boa alma ser livre? "Só o poeta, que despreza sua sujeição e levanta-se com o vigor da invenção, cria uma outra natureza" - diz o crítico Sir Philip Sidney. E, com isso, retomo a questão de Pirandello: ele vê personagens vivos, mas eles não entram na forma dramática. Ou, com Macedonio Fernandez: "A tentativa estética presente é uma provocação à escola realista, um programa completo de desacreditamento da verdade ou realidade do que o romance conta, e somente a sujeição à verdade da Arte, intrínseca, incondicionada, autoautenticada". O que me ocorreu nesse processo foi representar a mulher currada como alegoria do "Não Desejo" e da "Liberdade" - esta mulher, que agora vive com a família, refeita com remédios, deseja voltar à "liberdade" em meio ao lixo e seu bando torpe. Ao receber esse prêmio agradeço em especial à Academia pela compreensão de uma reflexão neo-realista E formalista citando a coisificação da palavra na indiferença do tempo por Brecht: "as palavras ocorrem num planeta que não é o centro".

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sábado, novembro 24, 2012

Lisa 

Lisa eu te amo mas o mundo não ajuda quando vc disse sim pelo Face eu não entendi qual a pergunta eu te amo mas eu ando cansado suado lotado esmola e gente amontoada quase caindo no abismo multidão no pico escada desligada porque o engenheiro não fez um buraco grande fez o mesmo buraco planejado de 30 anos antes eu te amo mas o email gerou um mal entendido e eu vejo um cara bem assustador pedindo dinheiro na estação e me dizem segurança não tem não eles circulam e só chegam depois do fato foi privatizado eu tô apaixonado o mundo não ajuda vc mandou sms mas eu não tinha crédito para responder eu te amo mas foi a gota d´água eu não sou nada eu tô vendo na recém inaugurada uma parede mofada todo mundo sentado que a linha parou eu te quero livro na estante dia todo na labuta amo mas estou sem meu amor e o mundo não ajuda só quero a paz do televisor.

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domingo, novembro 18, 2012


Escrita X: em busca do ódio

1 - B.I.T.

"Toda pálida a lua, e uso indefinido quando tudo em crise anda". Fumava trip na calçada e ia na estrada e já nem queria - exilado no tempo da atrofia.
1. de como niti era chato e passado
2. de como não queria um hermetismo revelador (da linguagem)
3. de como não sonhava em transformar nada
4. de como odiava a comida em lata da arte
5. qualquer ódio às respostas frias de raideguer e universidum e nutaum
"A falta de trens não o deteria". "Eu não posso dizer que é verdade, e Ele, que não parece".

2 - Pela Arte

Acho que foi quando eu fui morar nos Estados Unidos com meu amor
Ou quando eu quebrei o vaso da minha avó e descobri o ódio
Ou quando, depois de formado, fui representar o governo inglês
numa aldeia indígena da Amazônia que, sim, desviava recursos
E, perdido amor de olho, fiquei confuso e triste
E fugi de crianças vendendo colares no Butão
E me apaixonei por um marinheiro árabe
Nos meus ossos existe um pouco da fome de avós em Dublin
E da sopa que se ganhava depois do bombardeio
Pedaços de mim, de outros, coisas feitas à mão
Linhas universais, pela terra, pelos vasos comuns, mortais
Não é fácil ser uma mulher de nariz grosso numa
sociedade que ama nariz fino
(porque a Virgem tinha, dizem, e era dócil e amava as crianças
e ainda somos movidos à coisas que não somos)
E como sou a última a saber o dialeto perdido
Não é fácil saber algo quando os sábios sabem tudo
E ser rebelde e crítico querendo (um pouco) fama e aplausos
E de tanto cairelevantar e de tanto eagorajozé
E arrastar-se no chão e temer perder o melhor
E no tabuleiro do Banco Imobiliário da Guerra Naval
E de tanto casca de ferida e elogios dos Mestres medalhados
E deixar o que não é meu e aceitar que só se anda errando
E viver sem compromissos e saber dar à César
E ser sem medo e não repetir e saber parar
Essa é a arte.

3 - Urbe - Ela preparou o chá acendeu o incenso e tocou o sino e entrou o homem totalmente armado e perigoso e os amigos gritaram e foi brutal e sexual e quase impensável e bem como se queria num realismo neourbano pósmetafísico do físico. (Mas, ainda assim rubem: era carnaval, era noturno, era artificial: o ok povo das bananas porra pode virar o Ocidente). Já podemos agora pensar: precisamos de livros proféticos e a contagem para explosão. Porque as perguntas estéticas são pó no vórtice canibal de explosões proveta incestuosa vermes discursando e terror político. E os outros mundos? Colecionador de canções e técnicas. E de como tudo é um pouco vaidade e leviano mas acredite na mobilidade. Seria tão fácil separar política de desejo poético? E as cegueiras da terra assumidas podem ser sempre fertilizadas? E para que a escrita se os bosques são servidos em FMICIASFBI? O Estado Original dos Homens pode ser a Arte? Que tenhas questões e possas ir em frente. Como criar esperança hype e fluente? Vão nobres viver - vício do mesmo e rigor - se afunda o chão? Se haverá deus, como haver nós? Seremos o jesuíta que comeu o índio do novo ou Sardinha (inflexível), que foi comido? E não será tanta a angústia e nem essas as PERGUNTAS FUNDAMENTAIS mas é preciso fazer.

4 - SciFi -

a) O homem caiu na Terra.
b) Eles se encontram no Lago
c) Ela o leva para casa
d) Na lareira, se amam
e) Eles conversam:
- Ousemos. Nós, herdeiros dos outros, de esculturas brancas e autores irlandeses. De como perguntar. A pobreza dos antepassados e a vontade de contar e como brincamos com pequenos ossos e lagartas caídos na terra antiga. Tédio da revolução e rompimentos. E de como eu uso a língua para (re)quebrar Platão e J. Uma especificidade criadora que é ver tudo e ser tudo. (E eu quero saber onde entram Anjos de Fogo e Deuses de Túmulos na Era Gris). Não acredito que no Mundo Mau só se crie decrepitude. Não creio que existam regras de comunicação. Nem que o delírio a destruição rizomática seja solução. As soluções racionais podem nos matar e tanto o obscuro. Nem o passado nos serve nem pode ser esquecido. Tenho medo de acúmulos.
- Sejamos o Personagem que se descentra em busca do Autor inventivo e salteado e fazedor de ocultações - ela disse. Estava grávida.

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sábado, novembro 17, 2012

O vento doente


Los chora sobre os escombros do que já foi uma esperança
Anteu está em pé e não leu a Bíblia do Inferno
Mas decorou as fibras cinzentas que escondem a música
Los pensou em tambores e fogo e fitas coloridas
E o que se move – em meio ao dia quente - são repetições e dualidade
(Ah, Raízes, Correnteza, Justiça e Arte – 
criando filhos da neblina e da disciplina fluente
vós que já dominaram as Noites, as Cidades, Penhascos)
Uzi, com um compasso e régua, e o coração gelado
sorri vendo que nem a dor genuína (de um sangue livre)
nem o estrangeiro assimilado sobraram sobre Ítaca
(terra reescrita em ouro falso
e tesouros e fungos na caverna comungam
os líderes do amanhã são iguais aos tiranos de outrora)
Tudo muda, e corre, e sobe e renova-se
(A Revolução é também a Guerra Nuclear
América podre, onde foi parar teu leite?)
E voltam as velhas Górgonas – estéreis, doentias, furiosas
desenhando teias de aranha pelo céu novo e limpo
Somente Los e sua poesia Anteu reconstruiriam
Porque os criminosos têm interesses intelectuais
Também eles são vigorosos e navegam céleres e tem um sono mortífero.

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quinta-feira, novembro 15, 2012


Blue Moon - versão brasileira

"Blue moon, tão só estava eu
´cê viu, o coração tão frio
Sem um amor só meu

Blue moon,  você me viu assim
Rezando por um amor
Para abraçar junto a mim

E apareceu caído do céu
Um anjo quase alado
E você viu, lua, o sonho realizado
Aquele que diz "serei sempre fiel"

Blue moon, agora ´tou tão alegrinho
o coração tão quentinho
Um amor que é meu todinho
/(Não estou mais sozinho".

(Afonso Lima)

domingo, novembro 11, 2012


Democracia
Tem que matar esses noia mesmo, eu dizia, enquanto ela lia sobre o comandante, que estava no corredor polonês, de pontapé e cassetete, dizem que virou guerra, pegaram soldado de folga, que mandaram pegar um pra cada bandido morto, naquela noite parece que foi futebol, a briga ficou feia e não se achava homem no comando, entrou ele na frente do batalhão, caiu uma coisa lá de cima, caiu o homem no chão, alguém gritou: - Pegaram o comandante! Foi 311 bem matados, frigorífico a noite toda, e a notícia só saiu depois de um dia todo passado, só mortos que tinham família na cidade, e dizem que é maldade, preto já nasce suspeito, ladrão tem cara sim e em geral tem estilo funkeiro, nosso candidato diz que tá na hora de por o fuzil pra cantar, ditadura acabou mas quem manda agora é o terror, nosso comandante, em quem a gente pode confiar. 

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domingo, outubro 28, 2012

Vivo

Não mexe com esse índio.
Esse índio é meu -
(espelho).
Sou eu.
Esse índio não morreu.
Quem come tudo não comeu.
(Recebo o dia em canção).
E eu sou dele.
Um silêncio sem barulho.
Enquanto houver arara onça xamã lá fora também aqui
Eu preciso de noite e de línguas ocultas.
Não quero esquecer mais do que já esqueci.
Eu falava com a lua, eu ouvia o raio. Era vento.
Quero que ele fale e não seja nossa tela em branco.
E esse sucesso todo do nosso modo de ser
eu só quero para saber menos.
Que já tem pó demais.
Você tem toda a razão mas faz pouco tempo.
Falta outro caminho, é preciso.
Prever a caça ouvindo a terra. Ouvir contar o rei dos peixes. Ouvir o rádio, mas sob outra luz.
A mariposa azul que cruza as dimensões, não somos sozinhos.


E se chora no cubo, por ser um único.
Por querer ser único num mundo de liso.
Perder as emoções e comprar emoções.
Tirar do outro seu poder e fruto.
Quem vai criar o mundo sem Lorde Barba Branca?
Quem vai ter Escrituras no chão vermelho?
Quem vai pintar meu corpo quando eu me for?
Tudo era tão importante e não tinha importância nenhuma.
Eu preciso de raiz. Desquadrada.
Ser mais leve que o ar condicionado.
Chegar a um céu sem Matemática.
Habitar o meu corpo, a Mãe-Pai Terra e renascer na folha que se eleva.
Onde as coisas se comuniquem e nem são coisas.
Onde bicho é gente.
Onde eu sou gente, e diferente.

Não mexe com meu índio porque tenho que aprender.
Agora, aqui, vivo em quatro cantos.
Não mexe com eu índio. Nem tiro, nem biopirataria.
A civilização em colapso quer acumular
Eu preciso que me digam que o progresso é criar
Se a economia é ficção, me mostrem chão
Rio, floresta, cerrado que recebem o dia
É a porta ainda aberta.


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quarta-feira, outubro 24, 2012



Por que você faz o que faz?

Faço o que faço porque acontece. Eu busco e busco e o alimento gera filhos em mim. Faço o que faço porque recebi, e meu sangue ferve e quero mais e manhã.
Eu não quero nada. Eu não faço nada. Eu escuto.
Eu não.
Eu pertenço aos fantasmas. Faço o que faço porque como, durmo e tenho um corpo, que pergunta.
Eu ouço o som da fúria dos esquecidos, eu ouço a madeira quebrando, eu ouço metralhadora e cantos búlgaros na raiz das montanhas.
Sou da escuridão. Porque existe um tumulto, a nuvem de gás venenoso, uma criança em vermelho, um número.
Permaneço.
Minha alquimia negra. E um por cento de alemão não deprime o suficiente. Faço porque quero o como do sol, a cidade, o livro sem fim, que conecta com a vida e o significado.
Eu estive em Auschwitz, eu escrevi a Ilíada, eu construí o labirinto, eu sou o índio fazendo a água.
Estudo o metal, a luz e metafísica. E ponho a toalha branca. Eu duvido, eu pego na espada, eu faço o que faço porque não aceito.
Faço o que faço porque não sei. 


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terça-feira, outubro 23, 2012

Caccianimico

É o comum das coisas humanas ter dois lados - nada é como o disco de Odin, que, tendo caído virado nunca mais poderá ser visto, pois é apenas máscara.
Há mais de cem anos viveu Guilherme IX, duque de Aquitânia, a quem a Igreja persegue e odeia por seu amor às mulheres e por seu adultério: prometeu colocar a imagem da mulher de um visconde no seu escudo de cruzado. Esse homem fez as mais belas e vulgares canções sobre o amor, chamando as mulheres ora de "cavalos bons e nobres", ora de "anjos da alegria". "Tantas vezes as fodi como ouvireis: cento e oitenta e oito vezes! Meu couro está rompido."
Eu, notável em Bolonha, fui condenado pala história e pelos poetas por ter entregue minha irmã à luxúria do Marquês de Ferrara. Ele mesmo sangrou sob a espada de seu filho, roubo do ouro roubado. É verdade que cometi esse ato infame; é verdade ainda, que amava minha doce irmã.
Andreas Capellanus, escreveu um Livro final para sua Arte do amor cortês, condenado o prazer da carne, talvez por temer uma punição, sendo clérico.
Não foi por dinheiro que vendi a castidade da donzela; eu mesmo chorei caminhando sob o céu verde-dourado e não achei árvore para enforcar-me, como Judas. Não saberia ainda hoje a razão. Maldito o espelho dos espíritos da alma. Narciso é feito de sombra e substância; nosso inferno é ser eterna luta. 

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segunda-feira, outubro 15, 2012

Uma vitória para a comunidade paulistana! É a primeira vez que o poder público se manifesta reconhecendo o cinema um patrimônio da cidade. 

Infelizmente o tombamento não garante o uso como cinema e a comunidade pretende debater a compra do espaço, os apoios possíveis do poder público e buscar o compromisso dos candidatos a prefeito com a continuidade da programação de arte em Audiência Pública que ocorrerá dia 22 de outubro na Assembleia do Estado (sala Dom Pedro, à partir das 19h).

Foram convidados para  o promotor Washington Luis de Assis, responsável pelo caso no MP, os vereadores da CPI na Câmara, o Dep. Carlos Giannazi, criador do PL em favor da compra do espaço, cineastas e os candidatos a prefeito. 



Contra o fechamento do Cine Belas Artes!
A new note from the cause

Contra o fechamento do Cine Belas Artes!

BELAS ARTES É FINALMENTE TOMBADO!

Posted by Thiago Adorno Albejante (cause founder)

Parece sonho, mas é VERDADE! O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico de São Paulo (CONDEPHAAT) acaba de APROVAR o TOMBAMENTO do Cine Belas Artes!!!

Em votação realizada hoje (15/10), com placar de 16 votos favoráveis ao tombamento e 2 abstenções, os conselheiros reconheceram o valor do imóvel para a sociedade de SP e a importância de considerá-lo como parte integrante do patrimônio histórico paulista. De acordo com a decisão do CONDEPHAAT, o proprietário tem o dever de preservar a fachada do prédio, incluindo a visibilidade das vidraças, respeitando-se recuo de 4 metros.

Obrigado a todos os que ajudaram a promover o último abaixo-assinado, feito às pressas para a votação! Reunimos quase 1000 assinaturas em apenas 4 dias!
Obrigado, também, por terem participado até hoje dessa causa Contra o Fechamento do Cine Belas Artes! Sem cada um de vocês, essa vitória não teria sido alcançada!

Nós continuaremos lutando pela reabertura do cinema, certos de que a sociedade não pode se conformar com o fechamento desse patrimônio cultural!


Mais detalhes:

A deliberação segue estudo da Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH), órgão técnico vinculado ao CONDEPHAAT, bem como o parecer do relator do processo. Ambos previam a possibilidade de se tombar o cinema, e podem ser acessados aqui:www.goo.gl/KN73L

O processo de tombamento do Cine Belas Artes havia sido anteriormente arquivado pelo órgão, com base na impossibilidade de se tombar o uso. O relator, então, recorreu da decisão de arquivamento, pedindo que houvesse reconsideração por parte dos demais conselheiros. A decisão de hoje dá provimento ao recurso do relator, determina o desarquivamento do processo e tomba a fachada do prédio, bem como promove o registro do Cine Belas Artes como bem cultural de natureza imaterial.

Continua assegurado ao dono o direito de fazer uso do interior do imóvel como bem entender. Em outras palavras, não necessariamente o lugar volta a ser cinema. No entanto, o instituto do tombamento traz consigo uma série de restrições, que podem favorecer a instalação de um cinema no local. Hipoteticamente, caso o imóvel venha a ser vendido, a União, o Estado e o Município, nessa ordem, terão direito de preferência para aquisição – e, nesse caso, qualquer desses entes poderia tomar a iniciativa de comprar o Belas Artes para montar um cinema público de programação de filmes de arte, por exemplo.

A decisão deve ser publicada amanhã (16/10) no Diário Oficial.

quarta-feira, outubro 10, 2012

Incorporal


[Nota do Editor - Poucos contos desse escritor - Trebreh Egroeg - sobreviveram. Este, que teve nobre descendência, tendo sido citado pelo proeminente John Burke, despertou minha curiosidade, mas levei anos para encontrá-lo. Como é comum, nos escritores desse período, certa ingenuidade e exagero que desafiam nossa identificação. O mais notável era que, de fato, Trebreh fora famoso matemático e cientista amador. Achei-o na Biblioteca Nacional, finalmente, em antiga coletânea de ficção científica. Ele prova de modo categórico que, ao contrário do que se diz, não suspendemos a descrença como leitores: sabemos todo o tempo que é algo novo e o queremos.]

Se até agora evitei contar minha história, é porque a calúnia e a ignorância sempre afetaram meu espírito doente.
Morávamos na planície, na vila ao lado do canal e próximo aos penhascos avermelhados de indescritível beleza do lado Norte da ilha. Eu dedicara meus dias à construção de lentes e ao estudo do papel da teoria na ciência. Buscava materiais inusitados, unia teorias, ouvia palestras de diversas áreas. Um amigo enviou-me fatias grossas de um tipo estranho de cristal, que afirmava ter propriedades inusitadas. Logo em seguida, ele faleceu e não pude averiguar detalhadamente sua origem e composição. Mergulhava no estudo da luz e, ao mesmo tempo devaneava sobre a matemática como estrutura das coisas, como faziam os antigos, que viam a relação entre proporções da alma e do cosmos.

Acabei criando um instrumento magistral, capaz de visualizar com perfeição as mais longínquas paisagens. A teoria comum diz que o céu sobre nós é infinito e que os astros que vemos brilhar são, na verdade, fogos imensos à distância inimaginável. O senso comum, entretanto, desaconselhava a especulação sobre a natureza: "Um dia perdido não volta", diz o provérbio. Certa vez, porém, apontando meu invento para ele, algo estranho ocorreu.

Eu vi como uma luz fraca que fosse refratada e não um espaço vazio. Nada conforme às precisas leis da óptica. Passei algumas noites sem dormir, em estado de pânico.
Algo na composição do material estaria gerando isso? Eu sabia tratar-se de algo assim, mas não tinha conhecimentos nem coragem de buscar ajuda. Lembrava-me de um professor na Universidade que dizia: "Se algo novo é descoberto e não se enquadra nas leis científicas existentes, modificamos as leis da ciência para acomodar o novo fenômeno".

Lembrei que os antigos falavam do lekton, a linguagem, o sentido, como um dos incorporais que estruturavam o universo. O lugar, o tempo e o vazio precisam da lógica como elemento fundante.
Escondia-me no mais escuro da madrugada para observar o fenômeno. Algo ainda mais assustador aconteceu: pareceu-me ver, desfocado, algo como - maldito seja eu – o que seria aquilo? Era como se o material mostrasse um pouco meu próprio rosto. Fui tomado de intensa agitação e fiquei dias entre a melancolia e a insônia. Minha esposa se preocupou. Por fim, sonhei com o terrível olhar - cansado, solitário, como os ansiosos olhos de um comerciante. Voltei ao céu. Esperei algumas noites. Finalmente, o fenômeno se repetiu.

Convencido estar passando por uma espécie de delírio, fruto do intenso trabalho científico, retirei-me para nossa casa no campo e deixei as aulas na Universidade. Minha filha foi morar comigo para dar-me o mínimo de conforto. Mesmo assim, sonhava com um homem triste, infernizado por uma mulher extravagante, com um enteado feroz e uma enteada rabugenta. Eu via uma loja com crânios de tigre, aquários vazios, peças de xadrez, armaduras e punhais.

Um antigo filósofo afirmou que "os átomos são fisicamente indivisíveis, e não há motivo para um átomo não ser tão grande como um universo". É preciso dizer que, dentre as filosofias conhecidas, existem as mais bizarras – uma teoria nunca é verdadeira ou falsa, e mesmo duas teorias opostas podem conviver. (Uma piada do meio diz que um físico natural nada mais é que um artista do método). Haviam aquelas teorias que falam do universo com uma estrutura semelhante a uma árvore de histórias paralelas e alternativas mutuamente excludentes e até mesmo como um conjunto complexo de "bolhas" com contato limitado. Já se propôs que múltiplos universos estariam em expansão alternada: haveria uma energia estática do cosmos que converteria constantemente energia em matéria (teoria dos buracos no queijo). Recentemente se têm falado sobre a interferência do observador como intrínseca e de como a "realidade", em determinado nível, seria apenas a soma de diferentes possibilidades excludentes calculáveis. Algumas propriedades poderiam mesmo ter origem em dimensões físicas invisíveis, que “vazariam” por uma “membrana” que ligaria universos.

Acabei contando meu segredo à minha filha. Ela ficou muito perturbada e chamou um médico.
Que deveria eu fazer? Destruí minhas anotações e meus inventos. Dediquei-me à literatura. Deixo esse manuscrito, na esperança de que alguém... Não, não tenho esperança.

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O trabalho Incorporal de Afonso Jr. Ferreira de Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://afonsojunior.blogspot.com.br/.

segunda-feira, outubro 08, 2012


Os competidores

Eu não estou no negócio de ser melhor que os outros.
Eu estou no negócio de parar, silenciar e esparramar-me pertencendo.
Aceitar. Perder. Duvidar.
Brotar. Esperar, ouvir.
Vencer - reconstruir.
Eu não fiz o que fiz por poder.
É que a vida é dobrada, cheia de vazios, ela cria

-Um poder ser semente e fruto e flor
num jardim de diferenças, no tempo da reverberação -

Eu não estou no negócio de saber para que outros não.
No negócio de crescer reto para roubar a luz.
De progredir para ser
- Raiz molhada, dentro, dentro, e folhas tortas e manchadas sem fim,
e terra cheia de fantasmas animados, que sabem voar -
Eu não estou à busca do livro certo, do dito certo, do brilho que a regra traz
- somente quando esqueço - e lembro no real do possível
no ser que basta e sabe e cura
o que corre e cresce sem palpável -
Eu faço as coisas com destruição, erro e medo, e sei o que é sombra e não.
Eu quero tudo, e quero mais o todo.

Afonso Lima

segunda-feira, outubro 01, 2012

O capeta 


Aqui meu irmão governo é contra o cidadão o plano urbano é pagar a campanha da grande construção então vão fazer um trilho pingado de merda e tudo vai ser valorizado e a gente pode ser mandado pro diabo revitalizar o capeta nossa casa no Jardim já foi pro beleléu senhor governador quer estrada nova faxina de gente meu avô veio do ceará judiado de roça passou fome por lá agora nós quer moto e carro senhor doutor são alto e saúde paga que a grátis não dá nem injeção senhor doutor vem criticar nossa ambição desmedida a gente quer ostentar o que nos ensinam toda a vida o poder da marca o poder que mata a escola tá falida senhor doutor ser alguém um grito entalado desde cabral e se meu desejo é mau e eu peco o plural é bom pensar quem alimenta o animal aqui mano governo é  plano de bota-fora bota-abaixo eu desisti de lutar agora é olho por olho e morrer ou matar.  

Licença Creative Commons
O capeta de Afonso Jr. Ferreira de Lima é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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segunda-feira, setembro 17, 2012


Depoimento na CPI do Belas Artes do promotor que conseguiu a liminar favorável à preservação do cinema






Dia 19/09/2012 – quarta-feira
Horário: das 12h às 14h
Local: Sala C - Luiz Tenório de Lima, 1º Subsolo da Câmara Municipal de São Paulo
Endereço: Viaduto Jacareí, 100 – Bairro Bela Vista Telefone: 3396-4000

CONVITE

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cine Belas Artes, vereador Eliseu Gabriel, convida todos os interessados na reabertura do cinema para a reunião ordinária que será realizada no próximo no dia 19 de setembro, quarta-feira, na Sala C - Luiz Tenório de Lima, 1º Subsolo, das 12h00 às 14h00.

Desta vez, a CPI ouvirá o importante depoimento do promotor Washington Luis Lincoln de Assis, do Ministério Público Estadual, autor da Ação Civil Pública que averigua os processos de tombamento do Belas Artes nos órgãos de defesa do patrimônio municipal (Conpresp) e estadual (Condephaat).   

      Compareça, prestigie! 

(Folha Press)

Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA)
Escrevam para vivabelasartes@yahoo.com.brpara solicitar Informações sobre a mobilização e participar das atividades do Movimento pelo Cine Belas Artes (MBA). 

O MBA também precisa de doações para cobrir gastos de mobilização. Contribua com a causa acessando o link www.preservasp.org.br/pagseguro.htm



LISTA PRELIMINAR DE APOIOS AO MANIFESTO PELO CINE BELAS ARTES – 


http://www.facebook.com/notes/contra-o-fechamento-do-cine-belas-artes/manifesto-em-defesa-do-cine-belas-artes-patrim%C3%B4nio-cultural-art%C3%ADstico-e-afetivo-/320734764612877

terça-feira, setembro 11, 2012


Síntese do livro -

A batalha pelo Centro de São Paulo (Paulos, 2011)
por 
Felipe de Souza. 


A uma possível definição da concessão urbanística:
Concessão urbanística é um instrumento urbanístico aprovado pelo plano diretor de 2002 em São Paulo, que concede a promoção da desapropriação para o desenvolvimento urbano, prerrogativa essa do Estado, para concessionárias privadas. 



Durante a aplicação do instrumento, cabe ao poder publico licitar e coordenar o desenvolvimento de projeto de "caráter público", onde o caráter público pode ser questionado, vide os conflitos do Projeto Nova Luz; e, à concessionária privada, cabe a promoção da desapropriação e a execução do projeto, onde sua remuneração será advinda da exploração das áreas destinadas ao uso privado.

E, a uma possível crítica ao instrumento urbanístico, segundo as palavras de Harada:
"A concessão urbanística de que cuida a propositura legislativa sob exame é fruto de uma grande confusão conceitual. Confunde-se concessão de serviços públicos mediante licitação, hipótese em que pode ser conferida ao concessionário, por lei específica, a faculdade de desapropriar para expansão do serviço ou para melhorar o desempenho na execução do serviço concedido, com uma concessão para execução de obras urbanísticas conferindo ao “concessionário” o poder de desapropriar. 

Em outras palavras, a desapropriação não é para melhorar o desempenho na execução do serviço público concedido, mas para executar o plano de requalificação urbana apresentada pelo Executivo Municipal. 

Não há na legislação federal a faculdade de o Município conferir a particular o encargo de promover a reurbanização mediante desapropriação dos imóveis abrangidos pela operação urbana, às suas expensas, para ulterior revenda das novas unidades surgidas da requalificação urbana, a título de ressarcimento das despesas feitas e a realização de lucros."


Capítulo I

A entrada da concessão urbanística no Plano Diretor de São Paulo aconteceu por um esforço individual, num ideário de viabilizar agências de implementação de projetos, semelhantes a agências encontradas na França, de capital misto, com maior autonomia e sem a necessidade de contratar obras e serviços por meio de licitações, ou seja, atuando conforme o regime jurídico das empresas privadas para realizar ações capitaneadas pelo poder público.

A inserção de um instrumento urbanístico sem delimitar uma área de atuação e sem uma discussão ampliada, incluindo os potencialmente afetados por sua implantação, contrariou o “espírito geral” do plano diretor. Para a maioria dos demais instrumentos urbanísticos, houve delimitação de sua aplicação, especificando-se áreas da cidade em que seriam aplicados. 

Essa teria sido uma “artimanha” de seu proponente: aprovar o instrumento da concessão urbanística sem a delimitação de uma área específica graças à previsão do potencial conflito que ele pudesse causar. Portanto, a concessão urbanística na gestão Marta Suplicy (PT) foi resultado de um processo restrito, envolvendo um leque limitado de atores e pouca compreensão da comunidade técnica sobre a essência do instrumento urbanístico.

- A gestão PSDB-DEM chega, em seguida, com um ideário de “revitalização” para área socialmente problemática, no Centro de São Paulo, denominada “Cracolândia”. A Santa Ifigênia, locus do consumo da droga, apresenta um forte potencial econômico para o “desenvolvimento” graças sua localização em ponto nodal da cidade, com imóveis dilapidados e preços baixos, servida por infraestrutura e com boa acessibilidade. 

Desconsiderando a vida dos pobres presentes no bairro, a “revitalização” adotada seguiu o modelo conhecido por “arrasa quarteirão”, ou seja, desapropria, demole, constrói tudo novo. O fracasso em viabilizar a transformação por meio desse modelo, por inúmeras razões, entre elas o lento processo de desapropriação, levou o Prefeito de São Paulo a solicitar uma solução para representantes do capital imobiliário. 

O SECOVI apresentou um projeto elaborado pelo urbanista Jaime Lerner, um ideário parisiense de ocupação das quadras, e uma solução para o arrasa quarteirão: para concretizar o projeto Nova Luz, as desapropriações deveriam ser promovidas pelo privado, considerando “sua agilidade e sua capacidade de barganha maior” em relação ao poder público. Entre os instrumentos urbanísticos, a concessão urbanística “pareceu” ao SECOVI o mais indicado para “solucionar” o problema das desapropriações na Nova Luz. 

Assim, a concessão urbanística entrou na agenda pública governamental de maneira exógena ao processo técnico interno das Secretarias de Planejamento e Desenvolvimento Urbano de São Paulo. Portanto, o projeto Nova Luz seria uma política pública disfarçada de solução para a Cracolândia, que consiste em uma maneira de criar um novo canteiro de obras para o capital imobiliário em busca de novos vetores de atuação.

Capítulo II
Após a publicação do projeto de Jaime Lerner, atores da sociedade civil começam a formar grupos de resistência por entender que as ações do Poder Público Municipal seriam restritivas a grupos ligados ao capital imobiliário. Em nenhum momento, comerciantes, proprietários e inquilinos do bairro da Santa Ifigênia são consultados, e esses passam a entender a concessão urbanística como uma ameaça ao ponto comercial e ao direito de propriedade. 

Durante as audiências públicas para sanção do projeto de lei sobre a concessão urbanística, a Associação dos Comerciantes da Santa Ifigênia ACSI organiza uma passeata e reivindica sua participação no processo de formulação da lei, propõe alterações e condena o processo democrático. O projeto de lei é aprovado, considerando um substitutivo que não foi alvo de nova audiência pública, uma semana depois da última audiência pública, em plenária fechada, durante a noite, na Câmara de Vereadores. 

As audiências públicas, portanto, foram insuficientes, realizadas de forma apressada, e conduzidas de modo a não abrir espaço “de fato” à revisão do projeto. Esses eventos, embora concebidos para garantir “voz” e debate a todos, não surtiram os efeitos desejos pela população afetada.

Por outro lado, o SECOVI, parte “interessadíssima” no projeto Nova Luz, não apareceu ou “representou-se” em nenhum momento nas audiências públicas, apesar de explicitamente, em entrevistas, “proclamar-se” como responsável pela entrada da concessão urbanística na agenda pública governamental e auxiliar a prefeitura nos estudos de viabilidade econômica do projeto. 

Será que o SECOVI possui outras formas de participação mais eficientes? Será que ele possui quem advogue por seus interesses nesses momentos? Portanto, questiona-se uma possível correlação entre vereadores, financiamento de campanha por meio da Associação das Imobiliárias Brasileiras (AIB, ligado ao SECOVI) e, por fim, possíveis votações de projetos de lei que favoreçam o capital imobiliário.

Capítulo III

- Aprovada a concessão urbanística, a Prefeitura iniciou a licitação do consórcio responsável pelo projeto Nova Luz. O secretário de planejamento anunciou que, não apenas a licitação para contratar um consórcio – e não um projeto –, mas também a participação popular durante todo o processo seriam um avanço proposto pela gestão DEM. 

A primeira audiência pública para discutir a Nova Luz foi cancelada e a segunda acabou em confusão: a exposição de um projeto sem primeiramente permitir as opiniões de comerciantes e moradores gerou manifestações durante todo o evento; que chegou ao fim quando um ex-morador desapropriado invadiu o palco, para pegar o microfone para pronunciar-se, e foi agredido pela Guarda Civil.

Apesar da divulgação do projeto, questões relacionadas à permanência e à participação da população nunca foram devidamente esclarecidas até hoje, e durante o processo de atualizações do projeto, as três associações criadas em torno do problema, duas de moradores e uma de comerciantes, divergiram em opiniões e ações. 

 Portanto, a participação da sociedade civil foi multifacetada com relação ao olhar sobre o processo de elaboração da Nova Luz. Apenas uma unanimidade foi verificada, o acordo em combater a concessão urbanística por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, protocolada no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Os comerciantes entraram com o processo, ganharam uma liminar, a Prefeitura agravou e o relator indeferiu a liminar. Segundo artigos publicados em jornal, Claudio Lembo, ex-governador e atual secretário municipal de negócios jurídicos de São Paulo, desde 2006, indica a lista dos novos desembargadores do Tribunal de Justiça e por essa razão as associações não acreditam que a ação terá efeito. 

Desacreditados pela falta de equilíbrio entre os poderes – o legislativo e o judiciário parecem completamente comprometidos com o poder executivo –, as associações conseguiram a elaboração de uma nova ADIN via partido PSOL, a ser encaminhada diretamente ao Supremo Tribunal Federal. Enquanto a lei continua em vigor, com o anúncio do projeto Nova Luz, publicou-se também a “conta” para os cofres públicos: a prefeitura terá que investir quase R$ 400 milhões para viabilizar o projeto, contrapondo-se ao ideário inicial de utilidade do instrumento urbanístico.

Segundo Lomar (2001:51), “a concessão urbanística possui um enorme potencial para a reconstrução das cidades brasileiras, uma vez que o poder público não dispõe de recursos financeiros suficientes para a realização das intervenções urbanísticas reclamadas pelo interesse público”. 

Por fim, com a criação de uma política de abandono – a região da Santa Ifigênia tornou-se a líder no ranking de assaltos do município de São Paulo –, e com um processo político “viciado”, portanto, caso a lei e o projeto comecem a ser implementados em São Paulo, poderá tornar-se uma "moda" no Brasil utilizar a concessão urbanística para expulsar populações de lugares com potencial de valorização e colocar outras, a bel-prazer, que interessem aos grupos de relacionamento de prefeitos. E uma sociedade democrática não pode viver assim.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Roosevelt - para quem?



Posso estar muuuito errado, mas o que eu vejo da obra da Praça Roosevelt é muito cimento e pouca participação. De cima, o que a gente observa é um enorme pátio de cimento, bem no estilo anos 70,
como se a cidade não tivesse mudado nesses 40 anos. (Por exemplo, o sol na moleira.)
Então, são os casais de namorados que vão ficar de mãos dadas na praça? Cantando "O barquinho"?
(Olha a bolsa, madame!)

Ainda não vi as mais de 200 árvores do projeto. Ok, pode ser que sejam pequenas e estejam sem copa. Parece que não se pode ter muita árvore por causa das raízes (bonsai, gente, bonsai vertical!)
O que vemos é uma enorme escadaria, pedra sobre pedra, três troncos de terror de cada lado, como nem o faraó imaginaria... Muita falta de criatividade... (Uma cachoeira com trutas?)

Mas, ainda assim, levando em conta o alto grau de participação desse governo (obrigado, Serra!) e o anúncio de que será feita uma nova licitação de 11 milhões para a garagem, fico pensando se não será aquela velha história: um arquiteto milionário planeja algo em seu escritório em Nova York e alguém ganha rios de dinheiro com isso. (Quanto mais cimento, mais caro? Espelho tem que chegue.)

Numa área tão adensada como essa (e que, antes dos Sátyros, era Cracolândia), não apenas árvores e água seriam importantes, como um planejamento de ocupação pela população - lojinhas, bares, shows, etc. (Ah, mas tem "cachorródromo"!) Quantas economias criativas podiam estar no local, como a HQ Mix, que teve de sair dali por causa do aluguel. Biblioteca delivery? As tendas do Festival Satyrianas, foram pensadas? Haverá feira-livre? Como é a pista para skate? Pista para correr? No domingo, como fazer atividades para as crianças? O que é uma praça hoje, quando o espaço público foi comido pelo medo e pelos desabrigados, abandonados?
A pergunta é: como as pessoas vão ocupar o espaço? Que propostas pensam os moradores de rua e dependentes do entorno e que novidades em termos de polícia comunitária vão garantir o ambiente para a praça?

É claro que numa cidade com tanto urbanismo-Minhocão (salve Monotrilho!) e num ambiente de Operações Urbanas à portas-fechadas e Nova Luz Eu-e-meus-amigos (rapa fora ACSI!), qualquer verdinho alegra. Ainda mais um verdinho que custa 66 milhões!!!!

(Na audiência pública sobre o PL 414/2011 - que "tem como alvo as atividades e os empreendimentos que, por seu porte ou natureza, possam causar impactos ambientais", na Câmara Municipal dia 29/8, um morador da Zona Leste relatou que "a meia dúzia" de "paus secos" colocados pela Prefeitura nas calçadas como "compensação" pela Marginal não viraram árvore, mesmo depois de 2 anos...)

Agora é esquizofrênico o fato de que com uma mão a Coronelândia aprova construções para classe média na Serra da Cantareira (Plano Municipal de Habitação) e, com outra, planta alguma graminha.

Serão as necessidades de hoje, com o entorno de hoje? Ainda: houve consulta à população?
Outra surpresa é a demolição do Kilt. Quem pediu? Será que mais de 100 mil como os que pediram o Belas Artes?
Um ponto positivo é o batalhão da PM (por favor, não fiquem apenas no seu cantinho, como na República), que não estava previsto no projeto. (Vamos comprar câmeras SProzac!) Alguém deve ter dito que uma vez ali houve usuários de drogas. Legal, ou estamos criando apenas mais uma obra faraônica. Da incorporadora Kassab.





A reforma deve durar dois anos e consumir R$ 37 milhões. Há quatro anos, o custo era avaliado em R$ 13 milhões --mais do que a reforma das praças da Sé e República juntas (R$ 7,2 milhões).
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/773201-praca-roosevelt-em-sao-paulo-tera-reforma-de-r-37-milhoes.shtml


Valor de reforma da praça, no centro de São Paulo, passará dos R$ 37 milhões previstos em 2010 para R$ 66 milhões
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/49915-obra-da-roosevelt-custara-quase-o-dobro.shtml



Nova York tem uma outra ONG, o Conselho de Design para Espaços Públicos, que dá bolsas a órgãos da prefeitura, a ONGs e a organizações de bairro para estudarem propostas inovadoras fora das amarras da burocracia. Os Amigos do High Line ganharam uma dessas bolsas, no início da década passada.
Em São Paulo, os dois raros casos de revitalização de áreas degradadas carecem desses ingredientes. Em 12 anos de teatros na praça, a praça Roosevelt ganhou um projeto de reforma genérico, como a República e a Sé antes. Não vai ficar para a história.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/serafina/sr2608201209.htm

PS: Vejo uma menininha agachada na Cimenteira - e sua mãe lhe chama. O skate está ocupando as escadarias: cria SP!