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terça-feira, setembro 17, 2013

Aristóteles - uma introdução

Aristóteles foi um grande sistematizador do pensamento antigo, levando sempre em 
consideração as opiniões dos pesquisadores anteriores a ele. Através de uma equipe de 
colecionadores pôde classificar de modo eficaz uma série de dados, dando impulso assim à 
biologia, psicologia, astronomia, etc. 

Para os gregos, o universo estava em equilíbrio e harmonia, era o “cosmos”, em 
oposição ao caos primordial. A terra estaria rodeada de inúmeras esferas celestes, 
móveis, formadas por um quinto elemento ou éter, a primeira das quais seria a que dá 
impulso ao movimento que chega até o mundo sublunar (formado pelo fogo, água, ar e 
terra), regendo as cheias dos rios, marés, configurações dos continentes e mares. 
Influenciado pelo neoplatonismo que penetrou a teoria aristotélica no mundo árabe (o 
princípio motor torna-se Deus Criador), no aristotelismo da Idade Média européia as 
emanações do divino permeavam o mundo terrestre, cada ser era provido de uma “forma 
substancial” (estrutura abstrata do ser, que se manifestava como qualidade, frio, calor, 
etc.) 

Além disso, das causas pelas quais as coisas existem (material, motora, formal e 
final), a mais importante é a causa final, ou seja, o fim ou função pela qual existe: “A 
natureza não faz nada em vão”, ou seja, é perfeita e tudo responde a uma necessidade 
específica. Nos séculos XVI e XVII, a Igreja tomou esse aristotelismo arabizado como 
cavalo de batalha, pois um mundo mecânico sem Deus parecia surgir das novas 
descobertas científicas, como a mobilidade da terra ao redor do Sol, onde a mera 
extensão e jogo de forças justificariam os movimentos dos corpos. 

Também um novo método científico vai tomar o local do silogismo aristotélico 
(definição por relações de conceitos); através de comparações numéricas se pode testar 
as hipóteses, verificar as relações entre as medidas físicas. Para os sábios escolásticos 
medievais e os aristotélicos, para se chegar à forma científica usava-se à indução: vendo 
casos particulares chegava-se, por abstração, a uma definição precisa. Para os gregos 
havia uma ligação natural entre os homens e o universo, de forma que ter uma definição 
precisa de algo era conhecer a sua realidade última. Galileu terá de mostrar que, por falta 
de instrumentos como o telescópio, as definições de Aristóteles informavam pouco sobre 
o mundo, muito mais qualidades sensíveis (úmido, por exemplo), do que quantidades 
mensuráveis e representáveis matematicamente. 

Aristóteles influenciou mil anos de pesquisa científica no ocidente. Em que outros 
aspectos podemos perceber sua influência? 

Alguns conceitos base de sua filosofia: 

SUBSTÂNCIA 

Sobre o ser (“Aristóteles”, p. ex.) pode-se perguntar: 

O que ele é? 
Quais suas qualidades? 
Onde está? 
Como se relaciona com os outros? 


Cada tipo de pergunta quer um tipo de predicado (kategoria): de quantidade (tem um 
metro e sessenta), de relação (é filho de Nicômaco), etc. Haveria 10 classes. Também são 
vistas como “categorias do ser” classes das coisas “que existem”. Isto porque tem de haver 
alguma coisa ao qual o predicado se refere. Aristóteles é saudável. A saúde tem de existir. 

A primeira categoria, que corresponde a pergunta “o que é isso” é a de substância. 

Mas há muitos sentidos de dizer que as coisas são, e há tantos sentidos de “ser” 
quanto as categorias dos seres. 

Mas todas existem com relação a substância, pois é preciso que ela se mova, seja 
colorida ou tenha tal tamanho. A substância pode ser “distinguida individualmente” e 
“separada” , permanecendo essencialmente a mesma. Para os pré-socráticos as matérias 
eram substâncias ( como pó fogo ,a água, etc.) , para outros os átomos, os números 
(pitagóricos e platônicos) e para outros os universais abstratos ou idéias, como para Platão. 
Para Platão as coisas são brancas porque partilham da brancura Ideal, enquanto para 
Aristóteles as coisa brancas existem antes da brancura em si. 

Para ele substâncias são os animais, plantas, astros, artefatos como mesas e cadeiras: 
os objetos materiais de tamanho médio. 


METEORIOLOGIA 

O mundo sublunar é constituído de quatro elementos-terra, fogo, água e ar-
correspondentes a quatro qualidades primárias-secura, calor, umidade e frieza. Cada 
elemento tem um movimento para seu “lugar natural”-fogo para cima, a terra para baixo, Os 
corpos celestes são constituídos de uma quinta essência, ou quinto elemento, sendo divinos, 
vivos e inteligentes, e fazendo girar o universo. 

Alguma fonte imutável da mudança, estando fora do universo, incorpórea e, tem de 
iniciar o movimento, e “inicia a mudança como objeto de amor.” 

PSICOLOGIA 

Todas as coisas vivas são possuidoras de uma psique, uma força animadora, que 
podem ter faculdades simples como nutrição, como as plantas, ou estas , percepção e o 
desejo, como os animais, ou estes e imaginação que cria o pensamento, como os homens. 
Ter alma significa possuir uma habilidade, é um conjunto de potências e capacidades. As 
realizações não podem existir separadas dadas coisas que são realizadas. As almas são 
capacidades físicas. 

Há dois tipos de pensamento o ativo – separável do corpo, imortal e impassível, e o 
passivo, que depende da percepção. 

CAUSAS 

Buscar uma causa é buscar o porque de algo. A resposta é Isto porque Aquilo. Por 
causa de quê troveja? Porque A é B? Porque S é P? S é P porque Y. 

O vínculo que liga S a P é p termo médio. 

"porque S éP? por causa de M. S é P porque S é M e M éP."Porque as vacas(S) têm 
vários estômagos (P) Porque são ruminantes (M) e os ruminantes têm vários estômagos. 


Quatro causas : material, motora, formal e final. 

Material -constituinte a partir do qual uma coisa vem a existir: bronze 

Forma e organização - o rosto tem três vezes o tamanho do nariz 

Motora - fonte do primeiro princípio ou mudança: pai é do filho 
Final -espécie de meta, em busca de que se dá: exercício para ter saúde. 

Causa como forma-estrutura-organização -o que é e porque é são a 
mesma coisa: "A lua é eclipsada porque é privada de luz ao ser ocultada, e as coisas privadas de luz 
ao serem ocultada são eclipsadas" 

Causas finais ocorrem tanto nos produtos de atividades humanas, como 
na natureza: são “aquilo em busca do quê.” 
Silogismo: 

A) estátua é de bronze 
B) bronze é maleável 
C) estátua é maleável 


VIRTUDE E INTELIGÊNCIA 

A pessoa que desenvolveu virtude (arete) e inteligência prática (phronesis) que levam à 
ação correta, desenvolveu capacidade biológicas de modo correto devido a vivência numa 
comunidade (polis) onde a lei a justiça imperavam, onde a Dike (justiça) ordenava a cidade 
fazendo julgamentos justos. 

A ética de Aristóteles é baseada na eudaimonia e arete. Arete é “bem” ou “excelência” 
e eudaimonia é realização, sucesso. Ele deseja compreender o que nos leva a realizarmo-nos 
e a fazer sucesso na vida. A eudaimonia requer um fazer, realizar atividades, não é um mero 
estado de espírito. É agir de acordo com a excelência. Existem excelências de caráter como a 
coragem e a amizade, e existe “o divino que habita em nós”, ou seja, a razão, que nos impele 
a saber o que é bom e mau, e à atividade intelectual que atinge a excelência nos traz a 
realização e o sucesso. 


A raiz da palavra está ligada a “ser favorecido por algum deus”, ter sorte, e está ligada 
parte divina em nós, a razão (nous).A razão na Grécia tem uma relação sutil com a ordem e a 
beleza, a harmonia. O Universo era ordem, era kosmos, como uma jóia muito bonita feita por 
um artesão. 

Outro significado seria o de viver bem e ir bem , ou seja dirigir nossa vida 
racionalmente para guiar nossas paixões como quem guia um barco. 
Realizar o que somos na essência através de obras: “o bem para o homem vem a ser o 
exercício ativo das faculdades da alma em conformidade com a excelência” 

Justiça 
- o bem da polis exige as virtudes da soprosyne e da dikaiosyne. 
- Dikaiosyne é justiça corretiva e distributiva 
- A democracia é não-seletiva e a oligarquia não distingue pela virtude 
- os papeis sociais influem na virtude, por exemplo artesãos e mulheres, 

estas últimas por não terem controle nas emoções 
- é papel da cidade treinar seus cidadãos no exercício das virtudes 
- os cidadãos deveriam com a idade aprender a fazer decisões justas e isto 
exigia que tivessem todas as virtudes que iriam julgar, a começar pela justiça, 
“virtude em com que um homem desempenha seus papéis sociais projeta-o 
finamente para o aperfeiçoamento de sua própria alma na atividade contemplativa.” 
(MacIntyre, p. 122) 

Aristóteles no Séc. XX 

O filósofo grego tem sido retomado no século XX, desvinculado de sua roupagem 
cristianizada e neoplatonizada, sendo inclusive base de uma filosofia positivista, ligada ao 
filósofo Wittgenstein. Está mais claro hoje que Aristóteles não via o ser de forma tão abstrata 
como a interpretação árabe deu a entender, sob influência dos testos da época helenística 
grega. Conforme o professor Fernando Santoro: 

“Aristóteles é sem dúvida um dos filósofos mais presentes no séc. 
XX, seja pelas profundas transformações ocorridas nos estudos de suas 
obras e na interpretação de seu pensamento, seja pela influência direta na 
formação e discussão das principais correntes de filosofia 
contemporâneas, entre as quais a fenomenologia, a filosofia analítica, o 
pragmatismo, o neotomismo e a nova retórica, para citar apenas algumas 
das correntes onde as fontes aristotélicas das questões e dos métodos 
são evidentes”. 1 

Bibliografia:

Aristóteles, J. Barnes, Loyola
Justiça de Quem? Qual Racionalidade? MacIntyre, Loyola
De La religion a la filosofia, Conford, Ariel

Afonso Junior F. de Lima, 2008

1 Disponível em: http://www.ifcs.ufrj.br/~fsantoro/ousia/artigo_aristotelismonosecxx.htm

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Este trabalho de Afonso Jr. Lima, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.

segunda-feira, setembro 16, 2013

Pyton


Eu guardava o antigo oráculo junto à fonte do bosque de loureiros ao pé do monte. Eu nasci da própria Geia profunda. Eu descia até a caverna-útero para escutar as sombras e guiar os viajantes. Porque todos precisam de uma luz escura. Essas deusas de coxas duras gritavam e dançavam ao som de Dionísio, mas ele as ensinou regras e proporções. Como paga, o furioso mestre da memória - dos adivinhos que olham além e sabem o que foi, o que é, o que será - exigiu o jogo, o recitar da poesia, a cítara e a flauta, som de meninos em roda no altar. 

Dizem que eu persegui Leto, grávida dos gêmeos, e por isso ele feriu-me com setas de prata e de minha pele fez um trono para uma nova profetiza. A verdade é que queriam por fim à palavra de Geia e estabelecer uma nova palavra. Com lógica nova, colocam cada um em seu lugar. Com a retórica de evitar a vaidade do combate e a ganância do comércio, pregam a austeridade, a disciplina, a severidade para consigo mesmo, a fuga do prazer e o esforço ascético. Sua razão de ouro é falsa, magia negra. 

Não acreditam mais que devem pagar tributo à Noite poderosa e à vasta mata. Que o mundo exige reconhecimento, que tudo pede equilíbrio. Não pensam mais que o invisível derruba, vindo por trás, de rasteira, a alma adoece, a raiva aniquila, a sorte e o acaso podem derrubar um carro em batalha ou naufragar o belo guerreiro de mais alta linhagem. Os nobres aprendem a falar e isso lhes garante a verdade nos debates, com orgulho esmagam razões alheias. Eles podem tudo, mas não cultuam seus mortos, e os espíritos se ressentem. Eu estou ao lado da Senhora das colheiras e enlouqueço Diomedes que feriu Afrodite. Eu sou um Dragão-Fêmea e, com as Eríneas, não deixo o mortal dormir em paz. Eu grito nos ouvidos dos criminosos continuamente seus crimes e faço com que sua vida perca o sentido. 

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O trabalho Pyton de Afonso Jr. Lima foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.