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quinta-feira, janeiro 02, 2014

Claudilene

Ela não pode ir no Natal. Tomou dois copos de conhaque escondido. Quando, finalmente, chegou no morro, depois do Ano Novo, um corpo novo sujava o chão. Os parentes mudos. Teu filho, foi o Matias. Pele e osso, o Matias. Ele tinha uns movimentos esquisitos. Com 3 anos deu pra adivinhar o futuro. Sumiu na floresta 3 dias, num passeio. Disse que viu a própria morte. Virou crente por uma semana. Dormia no chão. Matias protegia os gatos. Ensinou a mãe a ler. Mulher solteira, como dizia a tia. Aos quinze anos, um pedreiro simpático, o Welinton, a chamou pra um passeio na obra, enquanto cuidava do filho da Dona, criada com as meninas. Ela sabia mais ou menos, mas não imaginou que era tão rápido e ia ficar roxo. A babá dizia: É as fatalidade. Também perdi os meus. A cozinheira: Se até o Filho de Deus eles mataram! A motorista: A UPP demorou. Ela foi liberada de servir a janta. Depois de servir o chá, saía e caminhava pela praia. Faixas azuladas, um céu desmaiado ia se alaranjando. Pensou que um corpo como o dela com certeza não boia. A patroa não tinha onde colocar o cachorro.

Afonso Lima

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