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sábado, fevereiro 15, 2014

Um dia comum

O clube de ginástica. No centro de Buenos Aires. Nessa época alguém fazendo uma caminhada matinal podia achar o horror em latas de lixo, nas margens do rio do Prata. Ninguém conseguia dormir na vizinhança. Entravam e saiam carros militares o tempo todo. Uma senhora ia às compras e via um embrulho estranho, semelhante a corpos, ser colocado num carro. Alguém foi pro interior e disse ter visto dezenas de cadáveres em buracos mal tapados. Começaram a surgir narrativas de pessoas presas em celas por anos. Compartimentos sem janela, com a luz acessa o tempo todo. Uma mulher desmaiou ao ver vários corpos caírem de um helicóptero. Aprisionamentos na madrugada começaram a virar história corrente. Mendigos sumiam das ruas. Treinadores da CIA eram vistos entrando, com superioridade científica. Logo em seguida se ouviam gritos lancinantes, eram as aulas. Quando a ditadura acabou, um dos presos disse: "Fiquei numa cela durante dez anos, vi o sol 8 vezes nesse tempo. Eu perdi completamente a noção de dia e noite. Eu esqueci como era o sol. Eu comecei a pensar que havia morrido, porque não tinha mais sonhos e meus parentes estavam todos mortos para mim". Essas técnicas ainda hoje são usadas. 

Afonso Lima

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