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segunda-feira, maio 12, 2014

Outro caso

Ele ficara responsável pela cobertura do julgamento. O réu era um farrapo humano. "Que seja culpado de traição eu deduzo de sua raça. Judeus, estrangeiros, naturalizados, desprovidos dos belos traços da raça indo-europeia, ligam-se aos 'intelectuais', que se arvoram acima do povo e não passam de anarquistas metafísicos". O presidente havia sido atacado no hipódromo, um dia depois de se anunciar um novo julgamento. Nas ruas, a violência antissemita. Uma tentativa de golpe foi abortada. Nos salões, debates acalorados. Ele a conheceu na casa de Mariéton. A nobreza romena se ligara a uma rica família judia, através do casamento de sua bisavó com um grande senhor. 

Apesar de tudo, uma história de amor. Novo governo, o golpista é cercado pela polícia em sua casa, na qual resiste por duas semanas com defensores armados. Cabe a ele fazer a defesa do nacionalismo diariamente em seu jornal. "Somos o prolongamento de nossos mortos. A alma comum da França tem que resistir contra a humilhação do Exército, contra os intelectuais que abandonaram a raça rural de sua origem, contra os judeus, protestantes e maçons".

Mas na luz do luar, Anna o enfeitiça com seus versos, sua voz, seus gestos elegantes. "O senhor realmente acha que não é relevante se esse homem em particular é inocente ou não" - ela disse servindo-lhe chá. "A espécie e a nação deveriam estar acima do individualismo de 1789" ele poderia dizer, mas calou-se. Percebe que jamais poderia escrever com a mesma paixão de antes.

Afonso Lima

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