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quinta-feira, março 12, 2015

Ficção científica

(Para Samir Yazbek)

O horizonte anuncia
tempos fora do tempo
já as flores lilases se escondem
a velha luta enfermidade
vivê-la ainda uma vez
o Menino sobre Hiroshima

"Ninguém nasce anormal"
Abutres na carne mordem
cálculo que não se olha
minha pena com tinta
quente da América

A menina que só faz no mato
não sabe que aqui os melhores não vencem
vencem os endinheirados
o menino com fome
espera pela aula
leva tempo
para se fabricar um bandido

O índio entrega sua orelha
para quem ganha por orelha
o efeito primogênito
o diabo temia (na sua filosofia)
pela civilização (ou não)
os fortes aprisionados
o sangue misturado

O fígado na cama
as máquinas obscuras
no beco dos condenados
medo do fraco
os ratos devorados

o filho, o pai, a mulher
desapareceram na cidade
América de garras compridas
multidões assustadas
limpar a neve da peste
civilização do diabo

Uma estrela coberta
desfocada uma nuvem rosada
luzes distantes meio céu de
chumbo
apesar de tudo um réptil
escuro e pequeno corre por aqui

O pampa de silêncio morto
Ninguém animal ruim
minha pena com tinta
quente da América

Afonso Lima

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