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sexta-feira, janeiro 29, 2016

uma noite de vinte anos

Esse lambedor de bota, esse torturador vir aqui dar palestra na terra de Jango, na terra de Brizola, na terra de Getúlio, que deus o tenha, eu estava no Palácio nas 11 noites em que o governador Brizola lutou com a arma que tinha, o rádio, para defender a pátria da gang da UDN e dos militares, quando veio o golpe, o comandante do terceiro exército era o marechal Machado Lopes, um carioca sério e culto, estava indeciso, queria apear, disse na reunião sou um homem de cabelos brancos e 63 anos, não posso começar uma guerra, o general Peri Constante, de Santa Maria, disse, o senhor vai ficar aqui e manter a ordem, faz 40 anos que defendemos o Brasil e não é agora que vamos fugir, o Lopes chorou, e de Brasília vieram o chefe do Gabinete da Guerra, e os comparsas, para bombardear o Palácio Piratini, mas os soldados da base aérea se negaram a voar, desligaram os motores, e Brizola no microfone no porão do Palácio, venham, vou resistir nem que seja só eu com minha família, só o povo me tira ou a lei, e os homens diziam, só por cima do nosso cadáver, um voluntário armado e de bombacha disse para um tenente que queria ir em casa ver a família, o senhor é pago para brigar, eu sou um patriota, o senhor fique aqui apoiado nesse saco de areia e pronto para atirar, e veio uma tropa da Serraria com tanques velhos e se pensou se era para prender o governador, e o coronal Machado parou com um carro na frente dos tanques na Catedral e disse, Qual a missão?, Viemos defender a legalidade, disse o comandante, o povo em frente ao Palácio, Tancredo resolveu o caso tirando o poder do presidente, o Jango veio da China, tinham dito que se pisasse no Brasil seria preso, veio pela França e pelos Estados Unidos ao Uruguai, Vamos lutar, o general Osório já está em Ourinhos com 200 caminhões e 11 trens, disse o governador, mas ele era um homem pacífico, e a frota americana já estava ancorada, Não quero derramamento de sangue, o mesmo que disse três anos depois, e foi nisso que veio uma escuridão de 20 anos e tantos jovens, lembro do homem das mãos amarradas, soldado Manuel Raimundo Soares, pai de família, mergulhavam os caras com as mãos amarradas de cima da ponte e alguns morriam afogados, esse foi o primeiro a aparecer o corpo com as mãos amarradas, o presidente da Assembleia abriu audiência pública, foi destituído, mas tiveram que ir na audiência pessoal do DOI-CODI de Porto Alegre e exército, ninguém viu nada, foi a viúva com quatro filhos pequenos, ela disse que sabia que o marido foi torturado 111 dias, e foi o primeiro caso que ficou na garganta do Rio Grande, agora vem um safado desse desonrar nossa Assembleia. 

Afonso Lima

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