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sexta-feira, março 25, 2016

White Magic - dramaturgia



White Magic

Afonso Junior Ferreira de Lima
Prólogo

Vozes? Sem corpo? Uma febre. Estou tendo alucinações.

É o que os ateístas sempre dizem.

Eu por acaso mereço?

O egoísmo e a ambição, a lei agora. Não dou conta de atender os pedidos para pactos. Vamos imaginar que tudo não passa de uma peça. Estamos criando uma peça juntos, tá?

Eu sou apenas um colunista de jornal.

Vamos aos fatos: o presidente tinha 86% de aprovação. Ia fazer reformas profundas. No exterior, debatiam sobre intervenção militar ou apoio com armas, combustível e munição. Espiões entraram no país.

Até o diabo apoia as greves e os radicais de esquerda.

O que o senhor fez foi criar uma história na qual o presidente deposto é um covarde que fugiu para cuidar de suas vacas. Mas, seguindo o correto procedimento legal, o senhor pode ganhar menos anos no caldeirão se servir de testemunha. Vejamos, quem o senhor pode denunciar?

Mas o diabo não sabe tudo?

Sim, mas a testemunha é uma peça fundamental. Na condenação.

Eu posso contar quem quebrou todos os ossos do professor Teixeira. Ele não caiu no buraco do elevador, claro. A aeronáutica tinha ódio a essa coisa de reforma educacional.

Um bom começo.

Quem eram os chefes das prisões?

No navio no porto de Santos?

A prisão da caldeira...

Tortura à cinquenta graus...

A da água gelada no joelho...

E a da merda. Três belas masmorras.

Os nomes daqueles que diziam: "Se me der 10 mil dólares, não torturo sua filha". E dos que bateram nos camponeses que deram comida à luta armada, que viraram mingau de sangue e foram amarrados em sacos e jogados na mata.

Ok. Ok. Vamos negociar. Vamos ter de começar a mandar gente pro Purgatório, para liberar um círculo inteiro para a imprensa.

1
- Eu lhe dei o desejo. Eu lhe dei, lhe dei um desejo.
- Sim, mas quero que você vá embora.
- Você me usou. Eu estaria pronta pronta para fazer tudo por você. Fazer seus inimigos serem, seus inimigos serem sugados por insetos. Fazer seus inimigos ter pesadelos inimagináveis e vomitar sangue.
- Eu pedi que acreditassem em mim. Mas agora...
- Acho que você foi longe demais. Muita fome, muita.
- Eu precisava disso, eu tenho uma missão.
- A lei é uma coisa frágil, como teia de aranha. Você assopra, pluf!
- Por favor, vá embora, vá embora, vá embora!
- No fundo, você é mau, mas não me importa.
- Eu quero ficar sozinho.
- Não.

2
- Filho. Li no jornal. Esse João foi cruel com a gente. Vamos botar na TV.
- Pai, calma. Nem parece... Calma, tô aí, atrás de uns documentos...
- Filho, eu vi no blog do Walter. Não pode nos humilhar assim. Animal.
- Pai, foi vazado de propósito.
- Quero na TV. O destino do dinheiro.
- O carinha já tá aqui na TV.
- Pediu pra ele?
- Sem pressão. Mostrei tudo, falei.
- Pressão não, quero solução. Quero ver beijar a lona.
- Tá saindo no jornal pouco a pouco, a vazada foi planejada. Como vai o túmulo?
- O granito chegou. Mas vem cá, temos de usar a TV, o cara é nosso adversário. Depois a gente fala mais, pega um avião.
- Ah, tá certo. Tô de olho, beijo.

*
- Mas é muita ousadia sua. Eu devia ter percebido. Memória estava cada dia mais pálida.
- Tempo, você sabe que eu apenas sou a personificação da ambição e egoísmo emanados da humanidade. Nem mesmo a Torre Insondável pode me destruir porque também observa Sabedoria que guarda as Leis.
- Eu exijo que você devolva as memórias aprisionadas entre o tempo, tudo aprisionado até agora.
- Seu irmão Espaço não continua se dobrando e seguindo, esquecendo esse infinito entre dois momentos?
- Nós vamos juntos até Memória e você vai restituir o significado perdido.

3
- Olha doutor, o senhor acha que eu vou engolir que sua TV está dizendo que perdi?
- Não é minha TV, é o instituto.
- O Homero me mandou as pesquisas, eu ganho em todas.
- Mudanças. Não enche.
- Olha aqui, o senhor não aceita. Não tem mais bilhetinho de farda, não tem mais eles mandaram. Agora tem de dar explicação.
- Minha paciência está acabando, candidato. Vai em frente vamos ver se acreditam.
- O senhor é parente, mas não é Deus.


4
- Preso pelos pés, pés cortados com unhas finas, nossas línguas venenosas na sua orelha derramando fogo, ondas sobre seu barco, chamas nos portões de sua casa...
- Não. É preciso que seja pela lei.
- Os seres invisíveis gostam disso. Uma caverna escura, um vento pestilento, um tempo sem tempo pode desfazer a alma como neblina cinzenta, puf!
- Prender por muito tempo?
- Seus inimigos são meus inimigos, seres que rastejam, quando a lua coberta de vapores surge no céu, seres que bebem sangue, que alimentam ambição e traição, afiam punhais e enviam sonhos, nós estamos contigo.
- Eu quero que você vá embora.
5
- Mas eu não tenho garantias. Tô devendo até a calça.
- Quem não sabe. Eu sou diretor! Vou te dar crédito.
- Não vão aceitar.
- Vão. Coloco a grana dos fundos dos funcionários.
- O Carlos vai depositar $400 mil dólares na tua empresa. Envio pelo Uruguai. Comprou bem.
- Sim. Pensa bem rapaz, três estatais!
- Agora compro aquela ilha na Bahia.


6
- O chão era coberto de brasas queimando. Cheiro de queimado. Ruínas de casas. Um velho e uma mulher saem da escuridão, carregam pedras. Chamas. Uma criança sai debaixo de uma cama destroçada, estava no hospital.
- Você atribui isso tudo a fada de sua família?
- Foi o que ela disse.
- Que besteira.
- Ela disse.
- Que alguém morreria?
- Sim.
- Você percebe que agora não temos mais um inimigo? Que a Defesa perde orçamento? Que as rebeliões não serão mais subversão comunista?
- Você acha que é apenas culpa pequeno burguesa com nosso império e bases militares?
- Fadas não existem.

*
Quando você abrir esse envelope eu já terei dado um tiro no peito. Como tudo começou? O regime de garantia do trabalho. Forças contra o povo. A oposição fez parecer que eu ordenei um atentado. Eu não ordenei. O pistoleiro atirou foi no segurança. Na base aérea, a tortura gera uma confissão. A oposição quer minha renúncia. Só saio morto, e assim fiz.
7
- Obrigado por vir em meu sonho. Eu vou jogar tudo. Eu vou acabar com essa vaca.
- Eu me orgulho de criar monstros. Antes a gente tinha que fazer sujeira. Que atraso.
- Mestre, lembra quando eu cobrava pedágio dos empresários? Com a Comissão de Fiscalização?
- Arquivamos. Eu me orgulho da magia negra, mas muito mais da magia legal.
- E quando ficamos com o fundo de pensão dos funcionários de Furnas?
- A chantagem é uma arte. Com prejuízo de 300 milhões, tudo no duto do Valério.
- Um pouco de medo.
- Não, os ladrões são de confiança. Em trinta dias o país cai à seus pés.

8
- Eles estão contra mim.
- Sim sim contra mim.
- Eu não sou você, vá embora, você me deu um desejo ruim.
- Você queria queria muito e todo mundo acreditou, você prende, você obriga, você é o rei agora. Não, não, não quero ir embora. Menino mau.
- Eu fui humilhado. Estão me perseguindo. Quero meu pedido.
- Um pedido? Uma cobra venenosa que paralise seus inimigos? O pânico? O manto da santidade? mau, mau menino mau.
- Vá embora. Eles vão me prender. Mas antes eu quero destruir.
- Feio, feio. Os homens nobres eu conheço os sonhos. Eles sonham com ouro e coisas mortas. Os camponeses sonham com brotos e água corrente. Agora não posso. Não está na época.
- Eu precisava disso, eu tenho uma missão.

9
- Não podemos viver sob ameaça, ele dizia. Homens encapuzados nas sombras. Armas. Se nós ficarmos inertes e não atacarmos, nosso inimigo se infiltrará lentamente, acabando com a liberdade e a independência. O fantasma fazia com que eu ficasse preso à minha cama, não podia de fato me mover, mesmo tendo os olhos abertos. A noite era muito fria e um vento passava pelo vidro. É preciso ser agressivo, dizia ele. É preciso salvar os 20 mil soldados mortos, a credibilidade. O fantasma olhou nos meus olhos e sua pupila era brilhante como espelhos. Eu vi fogo e armas nos seus olhos. O petróleo é importante demais para aqueles árabes, ele disse.

*
Na minha peça seria dito -
Ministério da Guerra
Estado Maior
Rio, 20 de março de 1964
Aos Exmos Generais e demais militares do Estado maior do Exército e das organizações subordinadas.
São evidentes duas ameaças: O advento de uma constituinte como caminho para a consecução das reformas de base e o desencadeamento em maior escala de agitações generalizadas do poder ilegal do Comando Geral dos Trabalhadores.
As Forças Armadas são invocadas em apoio a tais propósitos.
A ambicionada constituinte é um objetivo revolucionário pela violência com o fechamento do atual Congresso e a instituição de uma ditadura.
Defender privilégios de classes ricas está na mesma linha antidemocrática de servir a ditaduras fascistas ou síndico comunistas.
O CGT anuncia que vai promover a paralisação do País no quadro do esquema revolucionário.
Entrarem as forças Armadas numa revolução para entregar o Brasil a um grupo que quer dominá-lo para mandar e desmandar e mesmo para gozar o poder? Para garantir a plenitude do grupamento pseudo sindical, cuja cúpula vive na agitação subversiva cada vez mais onerosa aos cofres públicos? Para talvez submeter a Nação ao comunismo de Moscou?
Chefe do Estado maior


10
- Olha aqui, agora é atacar com tudo.
- Entendo.
- Põe um e outro no mesmo saco e acaba com eles.
- Obrigado, doutor.
- Esse traidor, que eu escolhi até ministro dele. Se ele encostar nas classes D e E, você cai.
- Monta um estúdio lá. Ataca o Camões Al Capone pessoalmente.
- Eu chamo de desonesto, fraco, essas coisas?
- Fraco, incompetente, político de segunda... eu, por aqui, acaso com editoriais, caricaturas, chamo juristas.
- Ok, obrigado.
- Vamos lá Caçador de Corruptos. Vamos levar essa.
*
Depois de bem açoitado, o senhor mandava picar o escravo com navalha ou faca que corte bem e dar-lhe com sal, sumo de limão e urina e o meterá alguns dias na corrente... Bacalhau é aquilo que é como se diz?… Como aquilo que é couro… Um relho! Pra quem viu o cativeiro como eu vi… É triste. Olha… se você não queria dançar, você tinha que levar couro. Se não queria fazer qualquer coisa, tinha que apanhar. Tinha tronco. Às vezes, passava mel, os bichos picavam. Tinha tronco de campanha, tinha tronco de botar nos pés, tinha tronco de botar no pescoço, tinha isso tudo.”

11
É um acordo, botar o cara, num grande pacto nacional.
Com o Supremo, com tudo.
Com tudo, aí parava tudo.
É. Delimitava onde está, pronto. Parava toda essa investigação da porra.
Com alguns ministros do Tribunal conversei ontem. Dizem 'só tem condições sem o presidente. Enquanto ele estiver ali, a imprensa, os caras querem tirar ela, essa porra não vai parar nunca’. Entendeu? Então…Estou conversando com os generais, comandantes militares. Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. Estão monitorando tudo, para não perturbar. Eu acho que tem que ter um pacto.
Um caminho é buscar alguém, uma ligação com o relator, mas parece que não tem ninguém.
Não tem. É um cara fechado, foi o presidente que botou, um cara… Burocrata.
- Ex-ministro do Tribunal de Justiça.
Eu ontem fui muito claro. Eu só acho o seguinte: com o presidente não dá, com a situação que está.
*— Ele me disse: “A gente está fazendo uma bancada de 140 deputados, para ele ser presidente da Câmara”. Perguntei: “Ele?”. Ele respondeu: “O Eduardo. O Congresso fica parado, a crise piora. Se der, tiramos o presidente.

12
- Colocou fogo?
- Queimamos e colocamos fogo.
- Agora sim. Só que me faltava. O governador nos liberar a ilha...
- Dois velhos na sombra de uma árvore! Vão pra puta que pariu.
- Puta merda. Já não deu os índios - prefeitura de merda, precisava fazer doação? Sorte que a Procuradoria...
- Esse terreno é pra gente grande. Pra que serve índio Jesus, me fala?
- Quero fazer uma puta mansão! É um dos lugares mais lindos do Atlântico.
- Quero ver não passarem a terra agora. Dou dois meses.
- Tá todos os caras convidados pro churrasco de inauguração da obra! Vou erguer uma mansão de dar inveja ao Demônio.
*
Na minha peça seria dito:
"Portanto, é altamente desejável que, se a ação for tomada pelas forças armadas, tal ação seja precedida ou acompanhada por uma clara demonstração de ações inconstitucionais por parte do presidente ou seus colegas ou que a legitimidade seja confirmada por atos do Congresso (se for livre para agir) ou por expressões dos principais governadores ou por algum outro meio que dê substancial reivindicação de legitimidade ".

13
- Eu temo que seja o próprio demônio.
- E por que não um dos mortos voltando?
- Ele conhecia minha alma. Sabia da minha ambição. Quando meu pai teve de vender sua empresa. A maldita fez com que os negócios se abrissem, a concorrência nos matou. Eu prometi.
- E foi para as Falklands.
- Ele aparecia todas as noites. Eu comecei a trabalhar na espionagem.
- E você ainda ouve essas vozes?

*
- Aqui está você, Solitário. Não basta o trabalho que tenho nestes dias, ajudando a demolir o mundo, tenho que correr pela terra, pelo ar, pelo fogo e pela água em busca do Cão Eterno.
- Suas gentilezas me acariciam, Senhor da Ignorância. Eu junto desses pequenos intervalos destroços. Caminho entre o tempo há tempo suficiente para sentir que a densidade da montanha mudou, as pedras já não têm a mesma gravidade. Você está roubando a pequena memória e, portanto, a contingência.
- Estamos prestes a viver uma Nova Era de Esquecimento. Colonizaremos o mundo como força militar e servidão dos ossos. Mas eu percebo o que você está desejando. Eu lhe afirmo que nosso pacto...
- Eu vou falar com Tempo. Eu vejo as coisas de longe e tudo se torna alegoria. A alma fora do tempo está perdendo espaço. O Sonho tem uma face cinzenta e que crispa-se de ódio. O pulsar foi congelado e criminosos, suicidas e assassinos que andam pela terra abrem as portas do Limiar para demônios e gárgulas.
- A Casa dos Segredos já está crescendo no coração de muitos homens e mulheres. Esse lugar espalha o frio, enquanto eu recolho as memórias entre os tempos. Eu poderia destruir você agora, mas acho que nem mesmo Sabedoria poderá parar o desejo das multidões.
*
Você está me assistindo, eu estou aqui dizendo isso. Poderia ser um filme, um filme de horror, mas não. Nós precisamos apenas ficar aqui e preencher esse tempo. Temos que fazer esse drama. Vamos falar sobre o mal e a justiça.
Eu diria:
De 1960 a 1967, trabalhou com a Polícia, primeiro em Belo Horizonte e depois no Rio de Janeiro. Documentos mostram que ensinava como usar choques elétricos sem deixar marcas. Em suas aulas de treinamento em tortura na polícia de Belo Horizonte, dava "demontrações práticas" de tortura utilizando-se de presos, mendigos e indigentes. Mitrione insistia em utilizar-se dos manuais, os Manuais KUBARK, insistindo que eles refletiam o fato de que tortura eficaz é ciência ("effective torture was science"). Em 1969 foi para o Uruguai onde continuou suas atividades em treinamento de tortura enquanto posava como encarregado de negócios na Embaixada Americana.


14
- Presta atenção, Astro, deu merda lá em São Paulo.
- É? Enquanto não derrubar esse Ministro da Justiça.
- Lá em cima o Juiz amigo negou minha prisão, né?
- É. E deu merda?
- Foi, mas sem problema. Nosso amigo chegou no apartamento, chegaram dois sujeitos com foto, se identificaram como agentes, essa coisa.
- Atrás dele? E a mala que eu dei pra ele?
- Calma, Astro. Mas ele não fez contatos, não tinha nada né? Então só aborta. Aborta tudo. Tá? Tá bom?
- Tá, tá, mas ele tinha alguma coisa?
- Não, nada, só dá uma olhada nas providências. Deixa passar, segunda você faz contato.
- Rapaz, que coisa. E teu pai deve estar preocupado com aquela outra coisa.
- É, a vaca não quer o Edi no ministério, puta de merda. Não tem como. Se não der eles não votam nada.
- Tá, espero você identificar por aí quem fez isso. E quem vai ajudar.
- Pois é. Maior dor de cabeça. Lá bem tranquilo, os caras aparecem, seu Gino escondeu ele e disse "deita aí no quartinho que a polícia está atrás de ti". O Tribunal vai dar habeas quanto for preciso, né? Nem falam com o Ministério Público. Essa investigação morre logo. Vou ver o que faço.

*
Como assim não existe conexão? O Carlos faz parte de um consórcio que ganha uma fatia da privatização e faz, depois, um depósito numa conta do Ricardo. O Gregório, o primo do chefe, leva a privatização da Companhia de Eletricidade – representava no processo da privatização uma empresa espanhola - e paga também. Isso não é conexão? Nós temos que lembrar que Ricardo era um cara totalmente ligado àquele processo. O cara que tinha o domínio da Previ e do Banco, que ajudou a formar os consórcios. Parece haver uma grande má vontade. O consórcio do cara ganha o processo e ele paga para quem faz a privatização. O que se queria: uma guia de depósito que dissesse “pagamento de propina feita pela vitória na privatização”?


15
- Ministro, não dá, como está o negócio? Se querem que eu tire essa vaca...
- A gente segura. A gente inventa de "não judicializar" a política e tal.
- Já vi que tem ministro aí no Supremo alegando que eu atrapalho minhas investigações...
- É, tem, mas a gente resolve. Limpo, limpo.
- Nossa base vai sair do lado da puta e deixamos que o vice assuma.
- Sim.
- Então tá, olha lá.
- Não se preocupe. Vamos falar disso, de que é assunto interno da Câmara.
- Fico contente. Hoje vou até festejar com o diabo.
- Sim, chama uma cachaça. Até.
- Até mais.
Epílogo
Eu disse, vai comigo, vai comigo eu disse. Praça de noite, com chuva, sozinho.
O padre ia na prisão. Eu estaria pronta pronta para fazer tudo por você, eu disse. Ele era padre na universidade. Rapazes, moças, todos, todos desaparecidos. Operários eliminados. Era noite, com chuva, eu falei: um desejo. Eu posso lhe levar para sempre. O padre disse: “Visitei a prisão”. Disse ao jovem: “Coragem”. Ele disse: “Não quiseram soltá-lo”. Um padre foi preso na aula, ele disse. Chovia. Vai comigo eu disse.

Afonso Jr. Lima





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