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segunda-feira, março 07, 2016

Do deserto

Dia de chuva. Sentam no banco.
- Todos sabem que a mulher e o índio são puro sentimento, nada tendo de razão. Não podem participar da sociedade política.
- Mas o senhor acha certo levar a civilização pelo sangue?
- Eu quisera ter a confiança dos senhores de que educando a alma rude ela se civiliza...
- O tempo nos mostrou que a bruteza e a violência impedem a evolução.
- Expor doutrinas... A conversão vale a pena? Um esforço imenso.
- O índio, instável, não será convencido pela razão.
- Não?
- Antes, a ordem temporal, depois a alma.
- Imagina um cacique impedir a união do estado.
- Também nós pensamos que antes é preciso a sujeição.
- Alguns autores na capital acham que é preciso integrar. Não. Conquistar porque não há como. O deserto é uma missão.
- Muito espertos, eles têm alma. Dentro da selvageria há razão e a razão é ambígua.
- Queremos o fim dos caudilhos. Ainda desejamos a república.
- Nosso rei unificou nosso território.
- Dizem que é a raça anglo-saxônica que garantirá a civilização. Sempre carregaremos o fardo de mulheres, analfabetos e miseráveis.
Um índio corre de dois homens armados. Ele é despido e açoitado. Morre no sangue.

Afonso Lima

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