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domingo, maio 15, 2016

Governo ilegítimo: 3 dias de medo

As aparências revelam. Acabou o Ministério da Cultura, pessoas apanharam ao resistir, o Ministério das Relações Exteriores fica furioso com países que rejeitam o golpe, não há uma mulher ou um negro nesse ministério não eleito, com programa claramente reacionário.

Em 2002, chamei de bio-poder-midiático corporativo esse poder que não apenas influencia, em debate com outras ideias, mas gera vida - e, portanto, um fanatismo que, mais ou menos como a pior face do stalinismo, fecha o indivíduo a qualquer reconhecimento de outras narrativas. Esse fechamento é espelho do fechamento da elite, por exemplo, do Congresso com relação à vontade das ruas, evidenciando como a classe política usou os anos Lula-Dilma para chantagear, defender a si mesma e evitar avanços.

Senão, vejamos: volta a "autonomia do Banco Central, tão cara aos economistas e rentistas:

"- ...o COPOM não elevou a SELIC. E passaram a chover artigos, opiniões, entrevistas e manifestos voltando a clamar pela independência do BC."

http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/A-respeito-da-independencia-do-Banco-Central/7/35387

Estamos assistindo à desmoralização de ideais de igualdade e direitos humanos, à perseguição com boatos judiciais e manchetes de líderes das minorias, até mesmo à censura econômica dos blogs - para voltarmos ao pensamento único de 1990. O Brasil mudou, se há o branco-nível-superior-50 anos (e seus filhos) com mentalidade impenetrável, o que torna diálogo impossível, porque sua racionalidade se perverteu, e a negação é a única saída democrática, há uma complexa rede de grupos jovens, de mulheres, negros, LGBT e classe média "liberal", horrorizada com a "tempestade no deserto" do governo. Por outro lado é preocupante que, esperando a lei de regulamentação dos monopólios desde 1988, nossas corporações de comunicação tenham ajudado a criar um clima totalitário, no qual uma população privilegiada está infantilizada e fanática, acusando toda crítica de "propaganda petista".

Ao mesmo tempo, a imprensa e "social-democratas" tentam salvar as aparências, frente à reação de choque ao novo patriarcado autoritário, dizendo que tudo foi legítimo, e não um sinal de " a gente faz o que quer". É claro que, se houve golpe, foi porque a sociedade é conservadora, destruída culturalmente pela miséria da educação da ditadura e neoliberalismo, pela repressão da geração 68, empobrecida pela midiocracia de 5 famílias, que doutrina com a simplificação de que a crise foi culpa da "incompetência do executivo" e não também da China e do Congresso paralisado por motivos políticos. A privatização, o fim dos direitos trabalhistas e ataque aos direitos humanos devem ser festejados porque salvam "a economia". Uma alta burguesia pode ter preferido mesmo a crise para tirar essa presidenta que faz questão de manter salários altos. As medidas iniciais do governo usurpador sinalizam claramente para uma repressão policial e anuncio de redução de gastos na TV pública (TV Brasil) e até mesmo uma página no Facebook que virou alvo dos conservadores por permitir denúncias de homofobia, racismo e misoginia foi tirada do ar. O novo Ministro da Educação afirmou que "a ideologia de gênero acabou".

As forças que emergem claramente agora, evangélicos fundamentalistas, judiciário conservador, mídia autoritária, políticos biônicos do capital, lembram muito o período de Bush nos EUA, quando o mundo corporativo e o fanatismo messiânico pretenderam tomar o atalho, perderam o pudor, se uniram para eleger um presidente sem voto e até mesmo criar uma guerra que era um bom negócio para todos. Mas, diferente daqui, as elites não tinham todas a mesma mentalidade arcaica (ou seja, instituições de lei e discurso não aderiram) e foi impossível ver a democracia e os direitos humanos apenas como "problemas". A diferença entre conviver com ilhas de fundamentalismo e tê-las como líderes da nação. Enquanto a alta burguesia festeja, a baixa burguesia espera otimista, achando que um governo "liberal" vai acabar com a crise. Mas é o liberalismo- coronel. Enquanto isso, a doutrinação do jornalismo tóxico continua a pregar a ideologia do egoísmo e as maravilhas da privatização, enquanto a autoridade ilegal reduz espaços de pensamento, como o Minc, e as escolas públicas são caso de polícia. Qual a primeira medida de Lula em 2003? Criar o Fome Zero. Michel Temer, em 1992, era da Segurança Pública de SP e "foi a época de melhor coexistência pacífica entre jogo do bicho e cassinos clandestinos e o alto comando da polícia". (Dória, Honoráveis Bandidos, Geração). Essa é pra você que achava que Noam Chomsky exagerava.

Afirma Pedro Bastos, no site Carta Maior: "Em suma, o crime perfeito da reforma política proposta por Temer é “alinhar” melhor dois dos poderes e, se possível, todos os três. Assim, em conjunto com o Quarto Poder, será mais fácil legalizar o que é ilegal."
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Quais-os-objetivos-politicos-do-golpe-/4/35966

Em um pais tão desigual, o fundo do poço é a nova luz.

Afonso Lima http://www.theguardian.com/film/2016/may/17/brazil-is-not-a-democracy-aquarius-premiere-cannes-red-carpet-protest http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-protesto-de-cannes-consagra-a-narrativa-mundialmente-vitoriosa-e-golpe-por-paulo-nogueira/ https://www.youtube.com/watch?v=rJyVYkREWTs

Prezada Sra X

Agradeço seu contato. No entanto, infelizmente, não tenho como aceitar seu convite. Ao fazer isso, junto-me a diversos colegas meus que se recusam a conceder entrevistas a essa emissora, dada sua longa e lamentável trajetória de desinformação e interferência na vida política do país. No que se refere à nossa conjuntura recente e atual, o incitamento à intolerância e a parcialidade descarada e muitas vezes mentirosa só fizeram reafirmar aquele triste histórico.
Atenciosamente,
Luis Ferla
Depto. História/UNIFESP
http://www.revistaforum.com.br/2016/05/18/professora-explica-a-produtora-da-globo-por-que-nao-da-entrevista-a-emissora/

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