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quarta-feira, setembro 14, 2016

Forças obscuras no Brasil Velho

As atuais propostas de governo refletem uma mentalidade muito arcaica, abaixo do liberalismo conservador das capitais e das elites médias, que tentam combinar o estar "agarrado ao seu bem-bom e indiferente a tudo mais", como diz Mario de Andrade, e o aplacar da consciência. 

São ataques aos índios, aos negros, aos parentes de presos políticos. Revela uma incompreensão dos processos formadores do Brasil e das forças que geram a complexidade. 

Pior, está gerando um bloqueio comunicativo perigoso, um "libere sua irracionalidade", já que é impenetrável à críticas, que chama de "esquerdismo". Esquerdismo pode ser, por exemplo, ser à favor de polícia não letal. 

A classe média liberal tinha sua referência no PSDB, o "partido da mídia", como o vendeu Franco Montoro na sua formação, partido que evitava o medo do comunismo e pregava social-democracia, mas foi se desiludindo com escândalos como a Privataria Tucana, os vexames de Aécio e a oposição brutal ao governo Dilma, ainda que sob blindagem dos jornalões do Folhastão. 

A classe mais conservadora, menos escolarizada, e os liberais de Oslo, como diz o sociólogo Jessé de Souza, que ama o verde, mas prefere não se sujar na política real e possível, foram se unindo no horror a contas em paraísos fiscais para pagar propaganda de campanha e pagamentos de superfaturamento a diretores de estatais, que iam para campanhas partidárias, alimentados por uma imprensa que percebeu que só o moralismo poderia quebrar o programa mais progressista. A distância da exclusão real (falta de escolas, hospitais, transporte, etc.) torna fácil o autoengano que vê o PT e o PSDB como iguais, ou até culpa Dilma pelo vice Temer, que foi escolhido pelo PMDB, que foi escolhido porque tem 66 deputados na Câmara. 

O nível de debate é baixíssimo: pobreza da informação e rebaixamento crítico com o uso de sensacionalismo e calúnias pela mídia. 

A classe média alta e baixa, que só tem como ideologia o medo da mudança, desejo de segurança e o amor à família vota em partidos sem ideologia, cooptados por qualquer lobbysta forte e manipulador.

"O espaço deixado pelos dois principais partidos da base foi ocupado pelas forças políticas que possuíam organização para tal como os evangélicos radicais e a bancada pessoal de Eduardo Cunha, espraiada por diversos partidos como PMDB, PSC, PTB, PP e outros..."
http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FO-Golpe-e-a-Vinganca-do-Presidencialismo-de-Coalizao%2F4%2F36047

28 partidos na Câmara. No Rio, candidato à prefeito com coligação de 22 partidos.

É preciso estudar o "Centrão", que está levando o Brasil pro buraco. O PRB, que possui 22 deputados.

Seu discurso, por exemplo, acha um pecado que gênero seja debatido na educação. De fato, seria algo incomum, mas apenas porque na ditadura falar em "mãe solteira" era crime. A ética da ditadura. A "corrupção" combatida sem percepção do sistema foi usada como bandeira para atacar direitos básicos. 

"Aqui, voltamos à velha discussão que já vem sendo encampada neste país há décadas. Como cidadãos e cidadãs, temos a infelicidade de ver no poder uma corja de políticos absolutamente descomprometidos com a igualdade, a tolerância, o respeito à diferença e, pasmem, à própria racionalidade. O obscurantismo tem sido defendido à luz do dia, e as imagens que vemos de jovens empunhando cartazes contra a “ideologia de gênero” e, pior ainda, reforçando a violência que é uma definição única e imposta de mulher, homem, família, moral etc, é de chocar. (Geledés) 


Ouçamos o PRB:


“Ver Estado e governo querendo influenciar na educação das crianças é algo totalitário. Educar é direito dos pais e ensinar, um dever da escola”, afirma. (O vereador da cidade de Caxias do Sul - RS - Daniel Guerra) informa que, no Plano Nacional de Educação, os referidos termos foram retirados, assim como teria ocorrido no Plano Estadual de Educação (PEE) e no PME da Capital gaúcha. “Será que somente Caxias está certa em manter essas expressões e os outros estão errados?”, questionou o parlamentar do PRB.


http://www.prb10.org.br/noticias/municipios/daniel-guerra-reitera-criticas-mencao-sobre-genero-em-plano-municipal-de-educacao/

Ou nosso amigo Magno Malta, dessa base evangélica que foi virando oposição por ser não entender a modernidade do PT.

"Esse kit vai criar academias de homossexuais nas escolas".
- Ele começou sua fala dizendo que ela (Dilma) não será cassada por ele ou pelos outros senadores, mas sim por Salomão e citou o versículo de Provérbios 16:18 que diz que “a arrogância procede a ruína”. (Gospel Prime)

https://www.youtube.com/watch?v=Hi60kfsrOBI

E isso ocorreu também na Câmara de São Paulo, com 11 milhões de habitantes e cara de metrópole cosmopolita! 

Uma grave distorção do sistema, que surgiu na Constituinte de 1988, foi a estrutura parlamentarista dentro de um modelo presidencialista. O presidente precisa "atrair" o Congresso, com cargos, com emendas, e isso foi piorando na medida em que o programa partidário foi às favas. E Dilma colocou um perfil acadêmico (Mercadante) para realizar essas alianças (pelo menos é honesto, devia pensar). 


"O Golpe Midiático Parlamentar contra a Presidenta Dilma Rousseff representa uma vingança do presidencialismo de coalizão contra as investidas da chefe do Poder Executivo. Logo no começo do mandato destituiu os indicados de Eduardo Cunha em Furnas. 
Outro ataque ao poder dos caciques dos partidos da coalizão foi a nomeação de secretários-executivos para tutelar os ministros indicados politicamente. Isso sem falar na “faxina” que limou da Esplanada importantes líderes políticos como Alfredo Nascimento (PR) e Carlos Lupi (PDT) e o indicado de Michel Temer, o ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi."

http://cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FPolitica%2FO-Golpe-e-a-Vinganca-do-Presidencialismo-de-Coalizao%2F4%2F36047

Então, suspeita-se que a velha política se cansou. 

"A oposição e Eduardo Cunha não estão aguentando ver os destroços da estrutura da corrupção endêmica que sempre dominou a política brasileira. O que Eduardo Cunha e a banda podre da política querem é desmontar a política de Estado criada pelo Presidente Lula e continuada pela Presidenta Dilma, de combate à corrupção, que está implodindo as bases da estrutura de corrupção no Brasil, levando grandes empresários, banqueiros e políticos inescrupulosos à prisão."

http://www.brasil247.com/pt/colunistas/laurezcerqueira/208270/Banda-podre-da-pol%C3%ADtica-quer-golpe-contra-Dilma.htm

A mídia desmoralizou o PT e ficou fácil mudar de lado e passar ao "conservadorismo" da oposição. Cunha trouxe as pautas mais reacionárias, utilizando-se também de manobras como as Comissões da Câmara. Ameaçar com impeachment - ao mesmo tempo trazendo a agenda das elites mais arcaicas e globalistas, como o ajuste fiscal que congela investimentos - era um jogo irresponsável para evitar uma comissão de ética. E foi alimentado sem freios e com cargos. 
Mas agora, começa a aparecer o caráter sombrio dessa aliança do novo governo. 

“Vão descartar esse PMDB corrupto e retomar as rédeas. As forças que estão produzindo esse golpe têm interesse em uma imagem de eficiência, em uma quase legitimidade, que pode ser tentada pela eleição, pelo parlamento, de um [Henrique] Meirelles da vida, ou de alguma figura que tenha mais carisma e popularidade, e por um parlamentarismo que ponha para andar esses projetos destruidores da Constituição de 1988”, projeta.
http://www.vermelho.org.br/noticia/286435-1


Afonso Lima

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