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sábado, abril 07, 2018

Manuscrito sobre a Memória

"A vida relativamente curta das tiranias se deve à fraqueza inerente dos sistemas que usam a força sem o apoio do direito." (Aristóteles)

Ele encontrou um Manuscrito:

- Muitos ódios inflamados de jovens que eram crianças quando o operário foi eleito.

Eu nasci quando ainda era ditadura. Não era bom ter opinião.

Eu vi o quanto foi difícil para uma mãe sustentar três filhos e lhes dar educação.

Mas ela lhes deu.

Naquela época era muito difícil passar na faculdade pública. Meu pai disse: "Você era aluno nota A e não entrou na federal".

E haviam instituições internacionais que avisavam do perigo dos gastos com o povo. Nós ouvíamos os políticos dizerem que a educação custava muito. Só 3% dos brasileiros tinham universidade porque a vida era assim.

De repente, todos meus amigos entraram. Isso foi em 2003. De repente, por sorte, o afilhado que nunca poderia pagar uma escola privada faz Administração. 

O sistema do privilégio é perigoso.

Um dos perigos é que o filho mimado se torna autoritário. Nem sempre as melhores alternativas são escolhidas. O mimado ignorante não é desafiado em suas certezas, não admite divergência.

E como nunca é questionado, acha que pode falar qualquer porcaria. Que sua fala é sempre importante. Que pode atacar o divergente nas redes, enquanto é só um bobo raivoso. 

Enquanto os problemas se acumulam e as pessoas excluídas guardam o justo ressentimento. 

Se você vive um sistema de privilégio e opressão, pode, por um tempo, negar a realidade. 

Criar seu filho num condomínio fechado, que evita a violência planejada pela miséria. Hoje, as empresas são até propriedade de acionistas, que não respondem diretamente a nada além do lucro. E o melhor negócio é negócio nenhum, papéis e sugar o imposto do Estado. 

Por um tempo. 

Mas agora eu quero falar do discurso. Do perigo que é a palavra sem curiosidade. Do perigo de sermos envolvidos por argumentos vendidos por poderosos e comprados por preguiçosos. 

Antes, o dogma era o perigo. Até nossos filósofos, preocupados com as verdades eternas, foram severos críticos da verdade que pudesse elevar uma proposição. 

Sobre uma determinada candidata, um comentarista disse que ela "não tinha leitura do mundo". Isso é o mais grave. Enquanto empresas de comunicação compram nosso pensamento, o consumismo criou uma massa de pessoas que pensam por still. 

E a velha elite, que sempre soube mais, sempre estudou mais, tem a lei na ponta da língua e a empregada sem carteira assinada, esses "formadores de opinião" se acostumaram a nunca ouvir. 

Nossa classe privilegiada criou um discurso sofístico, mas que se fortalece e auto-alimenta em argumentos retóricos reiterados. O ódio virou uma onda, e nenhum questionamento é bem-vindo.

Boa parte de nossos economistas, jornalistas e administradores são assim. E, de repente, a casa das leis começa a responder à opinião simplista, a lei começa a responder à onda de raiva, a própria economia se torna uma opinião baseada em arrogância. Agora, vemos o perigo de deixar o medo nos dominar, a herança nos cegar.

Observando a cobertura de grandes veículos e comunicação, percebemos que tudo gira em torno de construir a imagem de um vilão, e tudo que pode contradizer essa imagem é negado. E assim também podem fazer os funcionários públicos responsáveis por acompanhar processos.

Parte de nossa elite não pode mesmo dirigir a nação porque não respeita os direitos humanos. Assistir a Jovem Pan dá medo. Para os social killers, que fecham escolas, e filhos do privilégio preguiçosos, que não sabem além da TV, o discurso progressista que inclui jovens, mulheres negras, índios, gays, descendentes dos escravizados, ofende. Agora, a verdade vence no fim. Nós fizemos uma Constituição em 1988.

Eu venho de uma época que era bonito ser "neutro", ser imparcial e diplomático. 

Mas o neutro agora é somente para quem não tem moral.

Agora, o jovem e o homem velho furiosos falam como robôs, não posso ouvir, estão histéricos. 

O pobre que pensou ser rico, que colabora com sua opressão, pensando que, quando a violência dominar, ele vai se safar tendo uma arma; o rico que se achou raça superior, o rico incapaz de perceber a causa do que lhe atinge, pensamento fragmentado.

A democracia sufocada pela onda de mentira. E, ainda assim, há resistência. "Eu quero inventar meu próprio pecado", como diz Chico. 

Parece muito com quando os povos começaram a exigir mais do sistema político no começo do século XX. Não havia mais como ignorar os argumentos. A solução foi a propaganda. 

A sociedade com mentalidade escravocrata, a sociedade que foi a última a libertar os escravizados, faz exatamente o oposto do que o capitalismo de massa pensou: salário maior para mais consumo. Consumo de luxo para poucos e polícia e trem lotado para muitos. 

E, sim, as massas ignorantes às vezes dominam tudo. Sim, os povos podem se enganar e ver até a violência como algo justificado. Porque o mal agora é ir com os outros. É a falta de discernimento. 

Parece que mudaram a lei em 2016 pra prender uma pessoa. Que o sonho de nossos líderes é vender soja e compra coisas em Miami. E seus filhos vão estuda lá, como no século XIX. 

Quando a Justiça parece um partido, vivemos o paradoxo de uma tirania oligárquico-legislativa, a diversidade de informação é perdida, fechar escolas é a política dominante, eu tenho esperança.

Eu vi também as jovens negras tomarem a universidade. Eu vi os pobres levantarem a cabeça e terem opinião. Então eu sei. Eu sei que tudo tem solução. 

Eu venho de um tempo em que o operário foi eleito.

Afonso Jr Lima

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